Os argumentos usados pelo governo para recriar a CPMF passaram longe de sensibilizar os deputados da base aliada. Com a eleição municipal cada vez mais perto, a vontade de cometer traição ficou latente. E a mudança de posição é explicita quando se comparam os placares do primeiro turno da prorrogação do ;impostos do cheque;, ocorrido em 19 de setembro do ano passado, e da Contribuição Social para a Saúde (CSS) na última quarta-feira (11/06).
A traição foi grande: 83 deputados favoráveis à CPMF votaram não ou se abstiveram da última votação. O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), fez um mapa das traições, mas as considera justificáveis. ;Tivemos casos claros (de traidores) que foram justificados, mas quero agradecer a base do governo que votou pela melhoria da Saúde;, limitou-se a dizer.
O líder do PT, Maurício Rands (PE), é mais explicito. Para ele, a pequena margem da aprovação da CSS, apenas dois votos a mais do que o necessário explica-se pela proximidade da eleição municipal. ;Alguns candidatos a prefeito preferiram ficar longe de Brasília;, lamentou Rands. A CSS passou com 259 votos favoráveis.
O PMDB havia prometido 77 deputados pró-CSS, mas 68 seguiram a ordem do líder Henrique Eduardo Alves (RN). Na comparação com o primeiro turno da CPMF, 14 mudaram de posição, dos quais 11 preferiram se abster da votação desta semana e três escolheram o não.
Entre os aliados contra a CSS, o PV ganhou destaque. A bancada inteira votou não à CSS. Foram 12 votos não, dos quais nove haviam sido contabilizados pró-CPMF em setembro do ano passado. A mudança explica-se por dois motivos: a arrecadação tributária consegue segurar o aumento da despesa com a Saúde e a inconstitucionalidade de se criar tributo por meio de lei complementar e não por emenda constitucional.
;Se fosse bom para o povo, o presidente Lula teria feito isso. Ele teria apresentado a proposta da CSS, mas não. Ele deixou para a Câmara assumir a responsabilidade de algo que é inconstitucional. O desgaste não foi dele;, resumiu o deputado Marcelo Ortiz (PV-SP).
Além das deserções do PV, outros dois partidos tiveram número considerável de deputados com visão contrária à maioria governista. No PP, 12 votaram não, dos quais seis tiveram votos divergentes da votação da CPMF. O PR teve sete votos contrários, desses, seis mudaram o voto.
Argumentos
Um dado curioso sobre o PR: entre os 39 parlamentares que votaram sim à CSS estão dois baianos Márcio Marinho e Maurício Trindade, ambos ligados ao deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA). O primeiro é vice na corrida à prefeitura de Salvador e o segundo é o principal cabo eleitoral da campanha na capital baiana. ACM Neto, como líder da oposição, votou contra à nova roupagem do ;imposto do cheque;.
;O argumento que a eleição municipal pesa na hora da votação é relativo. Tem quem diga que o imposto é de só 0,1% voltado para a Saúde e isso é bem recebido pela base eleitoral. Ou seja tem argumentos dos dois lados;, ironizou o deputado Marcelo Ortiz.