A oposição quer convocar a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu para explicar no Congresso Nacional a denúncia de que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, a pressionaram a tomar decisões favoráveis à venda da VarigLog e da Varig ao fundo norte-americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Abreu afirma que Dilma a desestimulou a pedir documentos que comprovassem a capacidade financeira dos três sócios (Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel) para comprar a empresa, já que a lei proíbe estrangeiros de possuir mais de 20% do capital das companhias aéreas.
A oposição pretende apresentar requerimentos de convocação de Abreu em comissões permanentes da Casa. "Impõe-se a convocação da Denise Abreu para ela confirmar os fatos. Os desdobramentos da atuação do Congresso serão decorrência do que ela disser quando vier aqui se explicar, o que tem que ocorrer rapidamente", defendeu o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) defendeu a instalação de uma CPI exclusivamente para investigar a venda da Varig, ocorrida entre 2006 e 2007. "É caso de uma investigação detalhada. O fato determinado existe para a instalação de uma CPI: a fraude na aquisição dessa empresa, inclusive com o envolvimento da ministra Dilma. Nenhum agente público se sustenta após uma denúncia como essa", afirmou.
Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), as denúncias contra Dilma e Erenice mostram que o governo federal tem como hábito reunir "dossiês" contra autoridades que coloquem em risco os seus interesses. Na entrevista, Abreu afirma que Dilma disse ter em mãos denúncias de que a ex-diretora da Anac fazia lobby no governo em favor da TAM - numa espécie de ameaça velada para que agisse em favor da venda da Varig ao fundo norte-americano.
"É uma incrível história de tráfico de influência, crime administrativo e favorecimento ilícito. Isso atinge a ministra Dilma porque demonstra que dossiê usado para chantagem não é uma prática tão recente assim", ironizou o senador ao lembrar a montagem do dossiê pela Casa Civil com gastos da gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB) com cartões corporativos.
Demóstenes considerou as denúncias da ex-diretora da Anac como um "escândalo sem precedentes" porque envolvem a ministra-chefe do governo Lula e o seu braço direito. "A história é escandalosa porque envolve a figura central do governo. Toda acusação tem que ser comprovada, mas, se essas forem comprovadas, ela [Dilma] se equipara ao ex-ministro José Dirceu. A ministra tem que ser ouvida pelo Congresso", encerrou o democrata.