O senador José Agripino Maia (DE - N) rebateu nesta quinta-feira as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que foi "abafado" pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) em seu depoimento no Senado depois de citar o período em que ela foi torturada na ditadura militar. Agripino disse que não participou do depoimento da ministra para "brilhar", mas sim para questioná-la sobre o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Eu não participei da reunião para tentar obter nenhum brilho especial nem abafar. A minha presença na reunião teve o objetivo claro de ter respostas para o que o Brasil quer saber: quem fez o dossiê, com que objetivo foi feito e se havia alguma intenção política", afirmou.
Depois de participar de cerimônia no Palácio do Planalto nesta quinta-feira, Lula afirmou que Agripino pensou que iria "abafar" no depoimento da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no Senado ao colocá-la sob constrangimento. Mas, segundo o presidente, o senador é que acabou "em situação delicada" uma vez que não deveria ter adotado comportamento agressivo.
Agripino disse que, "se as respostas foram dadas de forma enviesadas" pela ministra, isso é "outra conversa". O senador reiterou que Dilma fez papel de vítima e direcionou a resposta para o campo emocional com o objetivo de sensibilizar os parlamentares. "Acho que o presidente Lula enviesou mais uma vez ao debitar a mim a tentativa de brilhar que eu não tive. Hora nenhuma eu tentei constranger a quem quer que seja. O dossiê é próprio do regime de exceção, o que eu quero é esclarecer esse dossiê", disse.
Emoção
Dilma ficou emocionada ontem ao responder à pergunta de Agripino durante depoimento prestado à Comissão de Infra-Estrutura do Senado que durou nove horas. Agripino pediu que a ministra revelasse todos os detalhes da montagem do dossiê sem usar da mesma postura adotada por ela para fugir as torturas no período da ditadura.
O senador leu trechos de uma entrevista de Dilma na qual ela afirmou que "mentia muito" naquele período, por isso insinuou que não repetisse a mesma prática. Em resposta, a ministra disse que sente orgulho de ter mentido para escapar de torturas durante a ditadura.
"Eu fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido na tortura, senador". Dilma afirmou que "não há possibilidade de diálogo" quando se tem pela frente o "pau de arara, o choque elétrico e a morte".
Numa referência indireta à possibilidade de Agripino ter apoiado os militares na ditadura, Dilma disse que os dois não estavam "no mesmo momento" quando ela enfrentou a luta armada para combater o regime.
O senador afirmou que não está disposto a pedir desculpas à ministra uma vez que, na sua avaliação, foi mal interpretado porque não teve o objetivo de constranger a ministra. "Cabe a mim corrigir e repor o meu pensamento. Era um esclarecimento do dossiê para que não ficássemos com um assunto que envolve o uso privilegiado de informações de Estado em benefício de um governo, encostando no canto da parede pessoas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher."