O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que o grau de investimento obtido pelo país é resultado da combinação de esforços de todos os brasileiros. Em entrevista ao Jornal da Cultura, exibida na noite desta segunda-feira (05/05), ele alertou, porém, que o fato deve ser comemorado com "euforia comedida".
Para ele, o país está no meio de um processo de transformação que ainda "levará algum tempo" para ser consolidado e que colocará o Brasil como grande nação e como uma grande economia. "O que é que eu digo para meus ministros: cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém", frisou o presidente. "É importante a gente estar feliz, mas é importante a gente continuar com a mesma preocupação de que o Brasil é um país em construção."
Sobre a possibilidade de exportadores de produtos manufaturados serem prejudicados pela inevitável valorização do real com a chegada de mais recursos externos, Lula foi enfático. "Eu quero que entrem todos os dólares do mundo dentro do Brasil". Ele lembrou que nos últimos 50 anos o Brasil sempre procurou ganhar credibilidade para conseguir trazer dólares para o país.
Mesmo assim, o presidente procurou distinguir o dinheiro que chega para ser investido no setor produtivo dos dólares destinados à especulação e não descartou novas medidas para bloquear o capital especulativo. "Para esse, nós já criamos o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 1,5% para tentar inibi-lo. E, se for preciso, cria-se mais. O Conselho Monetário (Nacional) saberá o momento adequado de discutir isso."
Balança comercial
O presidente mostrou certa preocupação com a crescente deterioração da balança comercial. "Temos que ter uma preocupação com as nossas exportações, porque o Brasil não quer construir déficit de conta corrente mais", avisou. Ele adiantou que o governo prepara novas medidas, a serem anunciadas no próximo dia 12, que deverão favorecer as exportações de produtos industrializados de maior valor agregado.
"O Brasil precisa se transformar em uma plataforma de exportações de vários produtos que nós fabricamos. Não apenas commodities, mas de carros, de telefone celular, de software", exemplificou. "Eu acho que é o mais importante movimento para o desenvolvimento industrial do Brasil que aconteceu nesses últimos cinqüenta anos."
Combustíveis
Ao responder sobre eventual influência política na determinação do preço da gasolina e do óleo diesel, Lula argumentou que os reajustes não acompanham as cotações do petróleo porque os custos da Petrobras seriam diferenciados. "Nós trabalhamos com uma margem, eu diria, sábia, por conta da Petrobras. Porque a verdade é que o custo da gasolina que nós produzimos no Brasil não é a totalidade do custo do petróleo internacional", explicou o presidente da República. Ele disse que a Petrobras também tem de contribuir no combate à inflação, como outros setores da economia. "Portanto, nós fizemos o reajuste no momento certo, na hora certa, e não tem nada de político."