Ligações telefônicas interceptadas pela Operação Santa Tereza da Polícia Federal com ordem judicial indicam que parte dos investigados queria ampliar sua área de atuação para 27 prefeituras de quatro Estados, além de convênios no Ministério das Cidades e na Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Segundo a PF, empresas dos investigados eram contratadas por órgãos públicos e emitiam notas fraudadas para justificar serviços não feitos.
Em um e-mail enviado em 29 de fevereiro passado -copiado pela PF-, o consultor Marcos Mantovani, preso na última quinta-feira, informou a João Pedro Moura, também preso na semana passada e ex-assessor do deputado Paulo Pereira (PDT), e ao empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, foragido, uma lista de 27 cidades "com domínio pleno". Segundo Mantovani, "esta listagem é segredo de Estado".
A mensagem indica que Mantovani trabalhava pela assinatura de contratos com sua empresa, a Progus Investimentos, Consultoria e Assessoria Ltda., para intermediar recursos na área de iluminação pública. "Assim que o contrato (...) for assinado, começaremos a maratona de idas e vindas". Mantovani parece usar um código na mensagem: "Poderemos gerar os bloqueios (...) para agirmos em conjunto, fora as cidades do Estado de SP".
A lista incluía nomes dos prefeitos e seus partidos políticos. "João Pedro está participando de reuniões com diversos prefeitos, vereadores e assessores", disse a PF, em relatório.
Num telefonema gravado em 20 de fevereiro, o coronel reformado da Polícia Militar, Wilson de Barros Consani Júnior, relatou a uma pessoa não identificada que José Brito de França, assessor na Câmara dos Deputados, fazia tratativas na Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, junto a uma funcionária que "é do PC do B". Segundo Consani, Brito teria dito "que vai dar todos os caminhos". Segundo o coronel, na Funasa "é uma grana que sai muito fácil, pois está dentro do programa [de prioridades] do Ministério da Saúde".
Os investigados também manifestam, nas gravações, interesse em três convênios específicos das Cidades, que estariam "parados", além de manter reuniões com assessores da Prefeitura de Francisco Morato (SP).
Outro lado
A assessoria do Ministério das Cidades informou que os convênios citados nas gravações são referentes à cidade de Jarinu (SP) e estavam apenas na fase de propostas. Elas foram rejeitadas pelo ministério, segundo a assessoria, que também negou tratativas de Brito na Secretaria de Habitação.
O irmão da prefeita de Francisco Morato, Silvério Pelizari, o Tuco, confirmou que investigados pela PF procuraram a prefeitura para "vender um projeto" relativo à iluminação urbana, mas a proposta, segundo ele, foi recusada. "Não fechamos nenhum contrato. Eles de fato apareceram aqui, mas não fechamos contratos."