Jornal Correio Braziliense

Ministerio Publico

Para onde vai o seu lixo? Saiba mais sobre o descarte dele

Entenda na reportagem abaixo o que pode ser feito para mudar esse caminho

Todos os dias de manhã você compra um saco de pão, queijo e presunto em bandejas de isopor e uma caixa de leite ou suco para tomar café da manhã, depois coa o café em um filtro de papel. Embrulha um sanduíche e uma fruta em papel filme para levar para o trabalho/escola ou então faz uso de industrializados, como biscoitos, bolinhos, barra de cereal, tudo embalado em plástico e alumínio. No almoço, deixa aquele restinho de comida no prato,
pega uma sobremesa em descartáveis e pede um refrigerante, em lata ou pet, para acompanhar. De tarde e de noite tudo se repete, e ainda tem os gastos de guardanapo, papel higiênico, copo descartável, a propaganda que te entregaram no sinal, o papel de bala, os restos de lápis apontado, a sacola do supermercado, o embrulho das compras, as etiquetas, as notas fiscais, e muito mais dejetos que você gera ao longo do dia e nem percebe.
A grande maioria das pessoas acredita que a partir do momento em que joga o lixo para fora de casa, não tem mais responsabilidade nenhuma sobre o destino daqueles detritos, mas a cada dia que passa, se torna mais urgente a necessidade de mudar essa mentalidade. O destino do que consumimos é responsabilidade de todos e precisamos cooperar para preservar o planeta terra, a nossa casa, e agir de forma cada vez mais sustentável. Confira
abaixo alguns dados a respeito da produção de lixo no planeta e no Brasil.
Você é o que você consome
Você sabia que um ser humano comum gera, em média, 1,99kg de lixo por dia? Isso equivale a 133 copos médios de café, o que significa 48.545 copos por ano. Imagine isso dentro da sua casa, na sua sala de estar. Incômodo, certo?

Agora pare para pensar que cada pessoa sozinha no planeta gera essa quantidade por ano: são 2 bilhões de toneladas! Isso é o equivalente a 344.827, 6 elefantes. As previsões de
crescimento da população mundial indicam que em 2050 irão existir 9,6 bilhões de habitantes no planeta. Se o consumo seguir o mesmo ritmo até lá, serão necessários 3 planetas Terra para
produzir recursos suficientes.
Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil de 2016, Gerado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Albrelpe), o Brasil produziu 71,3 milhões de toneladas de lixo no ano passado, o que dá mais ou menos 200 mil toneladas por dia, o suficiente para lotar 1.160 aviões cargueiros tipo Boeing 747. A maior parte desse montante é composta de orgânicos (52%) e papéis (26%).


Desse valor, 7 milhões de toneladas não foram objeto de coleta e, consequentemente, tiveram destino impróprio. Isso é o equivalente a 10 mil carros. Na imagem abaixo é possível contar 36.
Uma família de classe média joga fora cerca de meio quilo de alimento por dia. Se 2 milhões de famílias reduzissem essa quantidade pela metade, o país iria economizar 180 mil
toneladas de comida por ano.
Em 2010 foi sancionada a Lei 12.305, chamada Política Nacional de Resíduos Sólidos, que determinava que até agosto de 2014 o país deveria estar livre de lixões a céu aberto e aterros controlados. Ou seja, todo o lixo deveria ser destinado para reciclagem ou aterros
sanitários. No entanto, ano passado 29,7 milhões de toneladas, correspondentes a 41,6% do total de lixo produzido, foram encaminhadas para depósitos irregulares.
Cerca de 30% do lixo brasileiro pode ser reciclado, mas apenas 3% é de fato encaminhado para coleta seletiva. E para fins de curiosidade:

* A reciclagem de uma única lata de alumínio economiza energia suficiente para manter uma TV ligada durante três horas.
* Uma tonelada de papel reciclado economiza 10mil litros de água e evita o corte de 17 árvores adultas.
* Cada 100 toneladas de plástico reciclado economiza 1 tonelada de petróleo.
* Um quilo de vidro quebrado faz 1kg de vidro novo e pode ser infinitamente reciclado.
Brasília, a capital do país e Patrimônio Cultural da Humanidade, abriga o Lixão da Estrutural, o maior da América Latina. Ele está localizado do lado do Parque Nacional da cidade, cujas águas abastecem mais de 20% das casas.
E para onde vai todo esse lixo?
Hoje ainda não há uma forma ideal de se desfazer do lixo que não é reciclado. Na natureza, alumínio demora cerca de 200 anos para se decompor, enquanto plásticos demoram 450 anos e vidros ainda não é possível determinar, mas a previsão é de 1 milhão de anos.

No entanto, em uma situação de acúmulo, como é o caso de lixões e aterros, o material não entra em contato com o oxigênio, o que acaba por aumentar esse tempo. Uma garrafa pet, por exemplo, pode demorar mil anos para se decompor em um reservatório de lixo. Além disso, a queima de material libera até 27 tipos diferentes de metais pesados e gases tóxicos, que contribuem para a formação de chuva ácida e doenças como câncer e múltiplas intoxicações.
Apesar das consequências, as melhores soluções encontradas hoje para o lixo são queima e armazenamento a vácuo. Leia abaixo um pouco mais sobre cada tipo de tratamento.
Lixões: acúmulo de lixo a céu aberto. Libera gases, como o metano, sem nenhum tipo de controle, enquanto o chorume, líquido tóxico gerado pela decomposição de detritos, contamina o solo e pode chegar ao lençol freático. Atrai também animais e insetos, aumentando a transmissão de doenças e prejudicando a fauna.
Aterros Controlados: depósito cumulativo de lixo envolto em cobertura impermeável. Captam parcialmente o chorume e parte do gás gerado na decomposição é queimado. Camadas de
grama e argila cobrem o lixo e controlam a concentração de animais e insetos.

Aterros Sanitários: possuem base totalmente impermeabilizada que impede o vazamento de chorume, que vai para tratamento, enquanto os gases são eliminados por queima ou armazenados. O lixo é compactado e armazenado no solo em camadas.

Incineradores: grandes fornos onde o lixo sofre uma queima controlada com filtros para evitar que gases poluam a atmosfera. Reduzem o volume de lixo em até 85%, mas produz uma sobra
de cinzas e dejetos que deve obrigatoriamente ser tratada em aterros sanitários. Possuem altos custos de implantação, manutenção e operação, pois pequenas falhas podem gerar a
liberação de gases altamente tóxicos. Muitos países fecharam suas incineradoras pelos problemas ambientais causados.
Curiosidade: lista de materiais que não podem ser reciclados ; Papel-carbono, etiqueta adesiva, fita crepe, guardanapos, fotografias, filtro de cigarros, papéis sujos, papéis sanitários, copos de papel, cabos de panela, tomadas, clipes, grampos, esponjas de aço, canos, espelhos, cristais, cerâmicas, porcelana, embalagens com restos de alimentos.
Iniciativas para amar e servir de exemplo
* O Programa Zero Waste, em São Francisco, Califórnia, tem por objetivo não enviar material algum para aterros ou incineração, fazendo com que a população utilize apenas material possível de reciclagem, compostagem ou papéis, que levam cerca de 6 meses para decompor; além de estimular a diminuição da produção de lixo em geral. Para isso, a cidade divide o lixo em três caçambas: recicláveis, orgânicos e aterrados; e cada morador paga um
imposto sobre os detritos descartados, que varia de acordo com o tipo e a quantidade.

* A Suécia é referência mundial por ter conseguido reduzir a 1% a quantidade de lixo que acaba em aterros sanitários.

* Curitiba investiu em ações de conscientização entre 2005 e 2012, como a campanha SE-PA- RE, que levou a população da cidade a criar o hábito de separar o material reciclável, gerando um aumento de 192% na reciclagem local. Além disso, a prefeitura investe desde os anos 80 em uma campanha chamada Câmbio Verde, na qual recicláveis são trocados por hortaliças.

* Em São Paulo, a prefeitura lançou um programa de distribuição de
composteiras caseiras, para que o cidadão comum pudesse transformar seu lixo orgânico em adubo. Hoje já são mais de 10 mil inscritos e o próximo passo é compostar os restos de alimentos de feiras de rua da cidade.

E como eu posso ajudar?

É muito importante criar a consciência de que o planeta e o meio ambiente são a sua casa e não apenas aquilo que está dentro das quatro paredes do seu imóvel. Então, colocar o lixo para fora significa apenas mudar ele de cômodo, mas continua sendo sua responsabilidade. Então confira abaixo algumas dicas de como cuidar melhor do lixo e ser um cidadão mais consciente com o seu lar:

* Antes de fazer alguma compra, verifique se ela é realmente necessária. Muitas vezes sentimos o desejo de comprar algo ao ver uma propaganda ou alguém usando na rua, mas reflita se aquele objeto realmente faz diferença na sua vida, se você não pode pegar emprestado com alguém, alugar ou até mesmo trocar por algo que você não está usando dentro de casa. Hoje em dia há vários aplicativos e grupos em redes sociais voltados para economia colaborativa, busque saber mais a respeito.
* Ao fazer compras no supermercado, prefira embalagens recicláveis e utilize sacolas retornáveis. Além disso, reduza o consumo de produtos industrializados, vá a feiras e hortifrutis, pois assim, além de ajudar o meio ambiente, torna a sua alimentação mais saudável. E na hora de guardar o lanchinho, use embalagens não descartáveis.

* Muitas coisas que vão para o lixo de orgânicos podem ser aproveitadas em outras receitas. Confira o site da ONG Banco de Alimentos, que atua no combate ao desperdício e dá várias dicas de como aproveitar melhor a comida.

* Busque reaproveitar embalagens e produtos e tente consertar coisas quebradas antes de comprar algo novo. Enviar lixo para tratamento é algo caro, que consome energia e contamina o meio ambiente, mesmo durante o processo de reciclagem. Além disso, se você não vê mais utilidade em algum objeto, doe ao invés de jogar fora, pois aquilo pode ser útil para alguém. Mesmo embalagens, computadores antigos e trapos de pano podem ser encaminhados para ONGs que usam esses objetos como matéria prima para alguma atividade social.
Agora que você já sabe os impactos do seu lixo no mundo e como reduzir ao máximo a produção de detritos dentro de casa, compartilhe essas informações com a sua família e amigos, incentive a mudança de hábitos na sua casa e vamos trabalhar juntos para cuidar do nosso meio ambiente.