A grande maioria das pessoas entende que um trânsito bom é um trânsito fluido, sem engarrafamentos, que permite a chegada rápida ao destino. Entretanto, não é bem assim, porque, dessa forma, não são avaliados a que riscos todos são expostos no caminho. As autoridades de trânsito entendem que a qualidade, na verdade, é esse casamento entre fluidez e segurança, que garante a eficiência das vias. E para manter o equilíbrio entre esses dois fatores foi instituído o Programa Brasília Vida Segura no Distrito Federal, parceria envolvendo o governo do DF, organizações da sociedade civil e a iniciativa privada. São necessárias três frentes de trabalho integrado entre os órgãos atuantes nas vias: engenharia, fiscalização e educação, e todas as três amparadas pelo serviço de inteligência e análise de dados. Essa é a base essencial para o sucesso do trânsito ao redor do mundo inteiro.
Engenharia
A engenharia de tráfego existe para garantir o bom funcionamento das vias e resolver problemas logísticos. Os agentes de trânsito realizam um monitoramento constante, identificando pontos de fluxo intenso ou com um elevado número de acidentes. ;Nós temos uma aeronave que identifica os pontos críticos, temos patrulhamento, recebemos informações da própria população, por meio dos Conselhos Comunitários de Segurança, todos os equipamentos de fiscalização de velocidade também identificam retenções e temos uma gerência estatística de acidentes;, explica o diretor-geral do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), Silvain Fonseca. Essas demandas são encaminhadas para uma equipe de engenheiros e arquitetos, que vão ao local estudar as causas do problema.
Em seguida, é elaborado um projeto e encaminhado para as unidades responsáveis. ;É uma ação integrada de governo. Ninguém faz nada sozinho;, diz Silvain. Enquanto o Detran é responsável pela sinalização horizontal e vertical, projetos de circulação e estacionamento, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) se encarrega das rodovias estaduais e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) das rodovias federais. ;A nossa grande preocupação é o combate à velocidade e ao alcoolismo, as duas principais causas de acidente em rodovias;, afirma o superintendente de trânsito do DER, Carlos Spies. Para atingir esse objetivo, a comunicação entre os agentes é um ponto crucial do serviço. ;Temos reuniões quinzenais para alinhar os trabalhos, auxiliar na correção de pontos de maior quantidade de acidentes e debater estratégias;, afirma o superintendente.
Devido à importância da comunicação entre os diversos agentes, a cada dois meses, é realizada uma reunião da Associação Nacional dos Detrans, e foi criada uma câmara temática de engenharia para debater soluções e compartilhar conhecimento técnico. A diretora de engenharia de trânsito do Detran-DF, Daniele Valentini, afirma que ;os principais avanços têm sido na área de tecnologia, visando a otimização de equipamentos e materiais, como semáforos que identificam o fluxo e se adaptam a ele, tecnologias de fiscalização mais eficientes e até materiais mais resistentes e sustentáveis;. Há também a preocupação em deixar as cidades mais humanas, focando em transportes coletivos, calçadas e estudos para a redução de velocidade. No entanto, a grande dificuldade é conseguir a colaboração da sociedade: ;O principal desafio da engenharia do Detran é fazer com que o condutor entenda e respeite as regras comunicadas por meio da sinalização;, declara Daniele.
Educação
Enquanto a engenharia soluciona problemas práticos e pontuais, a educação foca no desenvolvimento cultural da sociedade, com projetos focados no curto, médio e longo prazos. ;Nosso objetivo final é uma sociedade mais educada e informada sobre segurança viária. Além disso, buscamos estimular as pessoas a tomarem decisões seguras e sustentáveis no trânsito, comunicando mensagens chave de segurança de trânsito;, afirma.
Segundo Tiago Moreira, gerente de Ações Educativas de Trânsito do Detran-DF, a sociedade mudou e a educação tradicional não desperta tanto interesse na população em geral. Por isso, é necessário recorrer a novas formas de educação e à comunicação, explorando tecnologias interativas, imersivas e de simulação. Assim, é possível ampliar a participação dos jovens nas atividades de educação do Detran-DF.
Pensando no médio e longo prazo, o Detran está implementando o Programa Detran nas Escolas, de modo que os professores da rede desenvolvam atividades de educação de trânsito nas escolas. Mais de 2mil professores foram capacitados e ,em breve, o material de apoio será distribuído nas escolas. Foi também desenvolvida uma campanha permanente de respeito ao ciclista, ;Ultrapasse, não passe;, demonstrando aos condutores a distância mínima que devem manter das bicicletas. Em 18 meses de campanha, foram mais de 5.400km pedalados, impactando diretamente mais de 80 mil motoristas.
;Nós estamos tirando o foco do motorista, dando ênfase a quem é mais vulnerável. A bicicleta é nova na história brasileira. Somente nos últimos 10 anos, ela começou a ser considerada como veículo e também começaram a perceber que o pedestre tem seu direito de atravessar com segurança;, explica o diretor de educação no trânsito do Detran-DF, Álvaro Ribeiro. Ele acredita que isso é resultado de uma mudança cultural, atingido a partir de muita pesquisa, análise de dados e observação de exemplos positivos ao redor do mundo, mas principalmente, da integração dos agentes. ;Em 2015, alcançamos 120 mil pessoas com campanhas educativas. Já neste ano, com as relações que estabelecemos com a sociedade civil, empresariado e outros órgãos públicos, atingimos mais de 1 milhão;, ressalta o diretor.
Paralelo às iniciativas do Detran-DF, temos outras instituições parceiras desenvolvendo excelentes trabalhos, como o teatro rodovia, da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), que faz apresentações dramatúrgicas para crianças e, a partir do ano que vem, também para adolescentes entenderem qual é a responsabilidade de cada um no trânsito, e a Transitolândia do DER, um espaço interativo de educação no trânsito. ;Pela primeira vez, estamos fazendo uma avaliação de impacto e custo benefício de nossas atividades com um parceiro da Unesco, para entender o que de fato traz resultado e vale a pena continuar fazendo. Até o fim do ano, teremos um resultado;, acrescenta Álvaro.
Tiago Moreira ressalta que "nossos números estão melhorando; então, ficará cada vez mais difícil diminuir ainda mais as cerca de 250 mortes anuais. Esse é um desafio enorme, e precisaremos inovar;. Pensando nisso, Tiago deixa uma nova e promissora proposta para a cidade: o Conviva - Centro de Educação de Trânsito Educativo, ;cuja missão é contribuir para a formação de uma nova geração de usuários de trânsito, um espaço de interação, experiências, simulações e resolução de problemas mediado por modernas tecnologias digitais e visuais;, completa.
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