Jornal Correio Braziliense

Ambev

É possível, sim, reduzir as mortes no trânsito

136 vidas já foram salvas em um ano.

A década de ação pela segurança no trânsito, que começou em 2011 e vai até 2020, é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) e faz parte da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Governos de todo o mundo se comprometeram com a meta de redução em 50% do número de óbitos causados por acidentes de trânsito, nona maior causa de mortes em todo o mundo e que fere de 20 a 50 milhões de pessoas por ano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está responsável pela coordenação de esforços e monitoramento de progressos, e também oferece apoio para iniciativas que combatem o uso nocivo de bebidas alcóolicas, incentivam práticas de segurança pessoal e melhoram os atendimentos de emergência.
A Ambev, empresa brasileira de bebidas e parte do grupo global AB Inbev, há quase 20 anos trabalha para contribuir para a redução do consumo nocivo de álcool, como o atrelado à direção, a partir de projetos, campanhas e parcerias. Em 2015, foram traçadas novas metas, incluindo a de reduzir o consumo em 10% em seis cidades do mundo até 2020. ;Nós não temos interesse em lucrar em cima desse tipo de consumo, é um comportamento que nós não toleramos;, explica Andrea Matsui, gerente de sustentabilidade da companhia, ;mas ainda é uma prática muito comum e nós queremos mudar isso, orientar a população e mostrar que essa atitude não é aceitável;, completa.
A capital do Brasil foi uma das seis escolhidas pela AB InBev, o que deu origem ao programa Brasília Vida Segura, parceria da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) do Governo do Distrito Federal (GDF) e a Ambev. Foi lançado em 2016 e, um ano e meio depois, 136 vidas foram poupadas. A meta de redução para 2017 foi superada em 40% e, de acordo com a base de dados do Departamento de Trânsito (Detran-DF), em 2011 houve 465 mortes e, em 2017, esse número caiu para 254, quase a metade. A Ambev participa como financiadora e também contribui com gestão e suporte, promovendo pesquisas e monitoramento de ações.
;Nós abraçamos a causa e temos parcerias também com a Secretaria de Saúde para identificação de padrões de consumo nocivo e resposta aos acidentes, e com a Secretaria de Educação para realizar programas preventivos nas escolas;, conta Andrea. O programa, na frente de segurança viária, é realizado em três fases: estruturação dos bancos de dados dos órgãos envolvidos, identificação dos locais críticos de acidentes e perfis dos acidentados, e elaboração de planos de ação, que vão desde manutenção da via até campanhas de conscientização. ;A partir de geolocalização, é possível identificar pontos de calor e comparar com algumas variáveis, como clima, condições do pavimento, sinalização, iluminação e então são realizados diagnósticos completos, o que ajuda a determinar melhor o problema e a traçar soluções mais simples e mais baratas;, afirma Andre Colin, consultor sênior da empresa Falconi, parceira da Ambev desde 2013.
A Consultoria Falconi foi convidada para estudar o tema de segurança viária e a criar novas metodologias de solução em parceria com estados. ;Em 2015 nós começamos um projeto em São Paulo e reduzimos os óbitos em acidentes de transito em 11% nos 15 municípios trabalhados;, diz Andre, ;o governo já atua no combate aos acidentes de trânsito, contudo, o mais interessante dessa iniciativa é o uso de técnicas de gestão, alinhando as metas com todos os agentes participantes e implantando uma rotina de gestão dos resultados de segurança viária. Temos encontros periódicos com os órgãos envolvidos para avaliar os resultados e entender o que deve ser aprimorado;, conclui.
A aplicação de gestão otimiza os recursos necessários para a solução de problemas, segundo o consultor, já que ;por exemplo, se é preciso pavimentar, pode-se dar prioridade aos locais onde ocorrem mais acidentes causados por problemas nas vias. Além disso, existem formas mais simples de resolver problemas. Evitamos boa parte dos acidentes criando, por exemplo, um bolsão de motociclistas entre faixas de pedestre e semáforos, uma ação barata e que evita muitas colisões;, conta. ;As análises das informações relativas ao tema de segurança viária, quando transformadas em conclusões, nos permite otimizar o recurso existente para salvar o maior número possível de vidas.; declara Daniel Oliveira, consultor sócio da Falconi. O consultor afirma, no entanto, que ;os grandes protagonistas desse projeto são os agentes públicos que estão engajados na causa da segurança viária;.
A Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal é a responsável por articular a participação dos órgãos públicos mais adequados para cada projeto: ;nós compilamos as informações, analisamos qual é o principal problema da localidade específica, entramos em contato com a autoridade de trânsito responsável e reunimos nossos engenheiros para chegar a um consenso da melhor solução;, explica o secretário Fábio Damasceno. Antigamente, o governo realizava grandes campanhas em todo o território, que além de caras, não estavam gerando muito resultado na redução do número de mortes. ;Então decidimos olhar mais de perto, identificar melhor as causas, e desde então o índice despencou. Alinhar a participação dos agentes em soluções mais pontuais aumentou muito a efetividade dos projetos;, completa.
Hoje, o foco do é a redução de acidentes fatais com pedestres. Segundo os levantamentos do Detran-DF, as vítimas dessa categoria são, em grande parte, homens idosos, e a maioria dos casos ocorre no período noturno, de 18h à 00h. ;São pessoas que calculam mal o tempo de chegada do veículo e não conseguem finalizar a travessia. E no escuro, muitas vezes o condutor não percebe a presença do pedestre no meio da via;, explica Andre. Para o consultor, a melhor forma de evitar esse tipo de acidente é: no caso de pedestres, não se expor em situações de risco, atravessando fora do local apropriado em ruas movimentadas ou mal iluminadas, e, no caso de condutores, reduzindo a velocidade dos veículos. ;Quando se tem um atropelamento a 60km/h, as chances de morte são de 40%, mas se o mesmo ocorre a 50km/h, essa porcentagem cai para 12%. A diferença é muito grande para pouca redução;, completa.