“Éramos beleza antes que soubessem o que era beleza”. A fala de Beyoncé em Black is king, filme musical dirigido e escrito pela cantora ao lado de outros colaboradores e lançado na última sexta-feira no Disney%2b, nos Estados Unidos e alguns países da África, evidencia um dos conceitos que a cantora traz sobre a negritude na obra Uma perspectiva sobre o belo, característica que costuma ser negada aos corpos negros.
Entre tantos méritos da produção, esse foi o que mais me chamou atenção. Não me lembro de ter visto filmes que evocassem a beleza negra dessa forma. Na verdade, as palavras negro e beleza raramente estão juntas numa mesma frase na indústria de massa, resultado do racismo estrutural e de um padrão que celebra apenas o caucasiano.
Tudo é bonito em Black is king. Não há dor, sofrimento e nem as amarras da escravidão para falar da população preta. Pelo contrário, há cores vivas, faz-se uma celebração de diferentes tons de pele, olha-se para o passado para enxergar o futuro. Tudo isso numa fotografia impecável, com cenários e figurinos impactantes. E ainda trazendo à tona discussões com o corolismo, discriminação pela tonalidade da pele, o afrofuturismo, estética cultural e filosófica, que combina futuro e passado da diáspora africana, e a retomada do próprio protagonismo.
Assim que o filme acabou, percebi a força que um produto Disney (estúdio que, por muitas vezes, não foi diverso) tem ao retratar o negro sob um ponto de vista tão incomum na tela. Assim como Beyoncé diz no filme, os pretos estão “refletidos nas coisas mais sublimes do mundo”, só não são valorizados, vistos e representados dessa forma. Inclusive, porque, por vezes, sequer têm poder de fala sobre a própria história. Que bom que Black is king faz justiça e reafirma o que foi cantado anos atrás em Ilê Pérola Negra (O canto do negro): “Tu és o mais belo dos belos”.