Essa questão do consumismo exagerado — confesso, sou consumista — já era algo que vinha me incomodando antes mesmo de o mundo virar de ponta-cabeça. Agora, então, com a recessão e o novo normal que nos aguarda, o tema se faz mais urgente do que nunca.
Atento aos novos tempos, o icônico estilista Giorgio Armani publicou, em abril, uma carta aberta ao mundo fashion, repudiando a cultura da moda descartável e chamando de imoral a ânsia do fast fashion de vender cada vez mais. “Não faz sentido que minhas jaquetas ou roupas que ficam na loja por três semanas tornem-se imediatamente obsoletas e sejam substituídas por novas mercadorias, que não são muito diferentes das que as precederam. Eu não trabalho assim, acho imoral fazê-lo.”
A preocupação não é apenas econômica, mas, também, ambiental e social. O processo de fabricação de algumas roupas usa uma quantidade enorme de recursos naturais — a calça jeans, por exemplo, chega a demandar 42 litros de água por lavagem. Não raramente, vemos, estarrecidos, notícias de grandes empresas de vestuário submetendo trabalhadores a condições insalubres ou até mesmo análogas à escravidão.
Essas são apenas algumas preocupações que precisam fazer parte do nosso cotidiano como cidadãos. E não apenas em relação ao vestuário. A questão do excesso de embalagens — sobretudo, plástico — que descartamos é algo que precisa ser revista com urgência. E algumas empresas já perceberam isso claramente.
Na indústria cosmética, xampus, condicionadores, cremes e desodorantes passam a ser oferecidos em barras, embrulhadas em material biodegradável. Também vemos a volta de embalagens retornáveis, como fazíamos com os “cascos” de cervejas e refrigerantes no passado. Lembram?
Em uma linha um pouco mais radical, um movimento tem ganhado força entre os millennials. A proposta do FIRE (Financial Independence, Retire Early, ou independência financeira, aposente-se cedo, em livre tradução) é aproveitar ao máximo os anos profissionais mais produtivos, não gastar com supérfluos, investir, no mercado financeiro, de forma agressiva e inteligente, ao menos 50% do salário para, entre os 30 e 40 anos, conseguir a sonhada independência financeira.
Pode ser para uma aposentadoria precoce, ou, como preferirão os mais dinâmicos, para passar o resto dos anos produtivos fazendo apenas o que der na telha. Para chegar a esse objetivo, os adeptos do FIRE adotam um estilo de vida minimalista — nada de gastar fortunas acumulando bens descartáveis, mas priorizar o investimento em experiências de vida, como viagens, na saúde e na educação, na própria e da família.
Tudo em nome de um propósito maior: reduzir o impacto sobre o planeta, viver de forma mais frugal e verdadeiramente prazerosa, sem preocupações com o sustento. Se a moda vai pegar, não sei. Mas, uma coisa é certa: não existe nada mais cafona do que esbanjar uma vida de ostentação quando, muitas vezes, não se tem nem condições reais de pagar por isso.