Uma das lições que tirei desta quarentena é a de que não preciso de tantas roupas, sapatos e acessórios para viver. É certo que, nos últimos quatro meses, só tenho saído de casa o estritamente necessário, mesmo assim, percebi que sobreviveria muito bem com menos de um décimo dos itens que tenho no meu armário. Nesses dias de home office, escolhi pouco mais de uma dúzia de peças confortáveis, que se tornaram minhas fiéis companheiras, e um par de sapato para as minhas raras andanças, que permanece na porta de casa.
Essa questão do consumismo exagerado — confesso, sou consumista — já era algo que vinha me incomodando antes mesmo de o mundo virar de ponta-cabeça. Agora, então, com a recessão e o novo normal que nos aguarda, o tema se faz mais urgente do que nunca.
Atento aos novos tempos, o icônico estilista Giorgio Armani publicou, em abril, uma carta aberta ao mundo fashion, repudiando a cultura da moda descartável e chamando de imoral a ânsia do fast fashion de vender cada vez mais. “Não faz sentido que minhas jaquetas ou roupas que ficam na loja por três semanas tornem-se imediatamente obsoletas e sejam substituídas por novas mercadorias, que não são muito diferentes das que as precederam. Eu não trabalho assim, acho imoral fazê-lo.”
A preocupação não é apenas econômica, mas, também, ambiental e social. O processo de fabricação de algumas roupas usa uma quantidade enorme de recursos naturais — a calça jeans, por exemplo, chega a demandar 42 litros de água por lavagem. Não raramente, vemos, estarrecidos, notícias de grandes empresas de vestuário submetendo trabalhadores a condições insalubres ou até mesmo análogas à escravidão.
Essas são apenas algumas preocupações que precisam fazer parte do nosso cotidiano como cidadãos. E não apenas em relação ao vestuário. A questão do excesso de embalagens — sobretudo, plástico — que descartamos é algo que precisa ser revista com urgência. E algumas empresas já perceberam isso claramente.
Na indústria cosmética, xampus, condicionadores, cremes e desodorantes passam a ser oferecidos em barras, embrulhadas em material biodegradável. Também vemos a volta de embalagens retornáveis, como fazíamos com os “cascos” de cervejas e refrigerantes no passado. Lembram?
Em uma linha um pouco mais radical, um movimento tem ganhado força entre os millennials. A proposta do FIRE (Financial Independence, Retire Early, ou independência financeira, aposente-se cedo, em livre tradução) é aproveitar ao máximo os anos profissionais mais produtivos, não gastar com supérfluos, investir, no mercado financeiro, de forma agressiva e inteligente, ao menos 50% do salário para, entre os 30 e 40 anos, conseguir a sonhada independência financeira.
Pode ser para uma aposentadoria precoce, ou, como preferirão os mais dinâmicos, para passar o resto dos anos produtivos fazendo apenas o que der na telha. Para chegar a esse objetivo, os adeptos do FIRE adotam um estilo de vida minimalista — nada de gastar fortunas acumulando bens descartáveis, mas priorizar o investimento em experiências de vida, como viagens, na saúde e na educação, na própria e da família.
Tudo em nome de um propósito maior: reduzir o impacto sobre o planeta, viver de forma mais frugal e verdadeiramente prazerosa, sem preocupações com o sustento. Se a moda vai pegar, não sei. Mas, uma coisa é certa: não existe nada mais cafona do que esbanjar uma vida de ostentação quando, muitas vezes, não se tem nem condições reais de pagar por isso.