Estão lançadas as bases para a reedição da Guerra Fria, agora opondo Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas mundiais. Esse novo confronto vem ganhando contornos ideológicos, como aconteceu no século passado entre o império soviético e os EUA, acrescido dos embates econômicos e geopolíticos. O último lance envolve a disputa pelo bilionário mercado 5G, com a restrição de autorizações para a entrada de funcionários da empresa de tecnologia chinesa Huawei, que concorre com companhias norte-americanas a supremacia na comercialização da tecnológica de ponta, além de outras empresas que forneçam apoio a governos que cometam violações dos direitos humanos, numa referência clara à política repressora da China em Hong Kong, antigo protetorado britânico encravado na Ásia.
As pressões dos Estados Unidos para barrar a expansão da Huawei são fortes, inclusive sobre o Brasil, que ainda não decidiu qual tecnologia — a 5G vai embasar a internet do futuro — vai comprar. Já cederam ao governo de Donald Trump países aliados como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia, Japão e Reino Unido. O presidente norte-americano não mede esforços para impedir o crescimento da influência chinesa no mundo e tenta, de todas as formas, barrar as iniciativas de Pequim para transformar a China numa superpotência, como os EUA.
A política da China em relação a Hong Kong, palco de seguidas manifestações pró-democracia, é contestada abertamente pelos Estados Unidos. Com a repressão da polícia chinesa aos protestos, Trump cumpriu sua promessa e acabou com o status de parceiro comercial privilegiado do território devolvido aos chineses em 1997. Para acirrar ainda mais os ânimos entre Washington e Pequim, o presidente norte-americano acusa a China de falta de transparência em relação à pandemia do novo coronavírus e promoveu a saída de seu país da Organização Mundial de Saúde (OMS), sob a alegação de que a instituição vem defendendo os interesses da nação asiática.
Outra questão que opõe os dois países é o avanço da influência chinesa no Mar do Sul da China, com navios do gigante asiático ameaçando embarcações de países vizinhos, como Indonésia, Malásia e Vietnã. Numa demonstração de força, os Estados Unidos enviaram dois porta-aviões para a região e o Departamento de Estado emitiu nota dizendo que as reivindicações territoriais dos chineses na área são ilegais. Apesar de Pequim afirmar que as disputas serão resolvidas por meio de negociações, as desconfianças são muitas. O governo japonês, por exemplo, alertou que a China estava tentando mudar o status no Mar do Sul e que representa uma ameaça maior do que a Coreia do Norte.
Diante dos acontecimentos, não há como negar que está em curso uma nova Guerra Fria entre os Estados Unidos e a China e tudo o que isso significa como perigo para a paz mundial. O receio nos meios diplomáticos é de que os embates econômicos, ideológicos e geopolíticos possam desembocar em um conflito militar, com consequências imprevisíveis.