Opinião

Visão do Correio: Sempre a educação

''Recente levantamento mostra que 11 milhões de brasileiros com idade superior a 15 anos não sabiam ler nem escrever no ano passado, número que assusta''

O Brasil continua patinando na batalha para erradicar o analfabetismo, meta sempre prometida, mas nunca alcançada desde que a educação passou a ser considerada uma das prioridades da sociedade. Recente levantamento mostra que 11 milhões de brasileiros com idade superior a 15 anos não sabiam ler nem escrever no ano passado, número que assusta os especialistas, pois deixa o país cada vez mais longe de atingir a meta estipulada em 2014 pelo Plano Nacional de Educação (PNE). A proposta era de que, em 2015, a taxa de analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos teria de ser de 6,5%.

Na contramão das previsões, ano passado este índice foi de 6,6%, como indica os dados da Pnad Contínua da Educação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve ligeiro declínio do percentual de analfabetos (somente 0,17%) em relação ao ano anterior à pesquisa, o que demonstra que se o ritmo de queda continuar em torno de 0,2 ponto percentual por ano, a meta prevista para 2015 só será alcançada este ano e os iletrados deixariam de existir no Brasil somente daqui a 33 anos. Isso, se não houver cortes nos programas de alfabetização voltados para essa faixa populacional, como vêm denunciando educadores de todo o país.

A absoluta falta de condições socioeconômicas é o motivo primordial para a persistência da evasão escolar. Estudiosos concordam que a diminuição do analfabetismo poderia ganhar impulso com a adoção de políticas públicas de educação de jovens e adultos — as EJAs —, comprovadamente a principal forma de se recuperar a escolaridade de quem deixou os bancos escolares pelos mais variados motivos, mas sempre tendo como pano de fundo questões financeiras e familiares. E o público alvo das EJAs são os 75 milhões de pessoas com mais de 25 anos que não completaram o ensino médio — dados do IBGE.

Educadores afirmam que o Brasil tem fechado turmas das escolas voltadas para jovens e adultos, tanto nas cidades quanto em áreas rurais. A medida vem afastando os alunos ou prejudicando outros com a superlotação das salas de aula. A atenção dada a eles tem de ser redobrada, pelas dificuldades geradas por demandas totalmente diferentes para o aprendizado. De acordo com especialistas, no ano passado, o Ministério da Educação (MEC) fez o menor investimento nas EJAs durante toda a década.

Com políticas públicas adequadas e eficazes, os especialistas acreditam que o país pode reverter o quadro do analfabetismo absoluto e funcional, já que as pessoas que não completaram o ensino fundamental são consideradas analfabetos funcionais — elas não conseguem interpretar um texto, por mais simples que seja. Para isso, é necessário a elaboração de uma estratégia nacional contra o analfabetismo, com o comprometimento do poder público e da sociedade.