Opinião

Opinião: Versões na pandemia

''No momento, vivo a minha versão dedicada aos estudos e à decoração. Inscrevi-me em vários cursos on-line. São tantos, que tive que anotar tudo numa agenda para não perder a hora''

Desde o primeiro decreto no Distrito Federal, em 11 de março, por conta da pandemia do novo coronavírus já se passaram quatro meses. Dentro desse período, já me questionei quantas versões de nós mesmos podemos ser em 90 dias, e tenho certeza de que são muitas.

Quando a pandemia começou, desesperei-se. Lembro-me de chorar algumas vezes no carro, sozinha, voltando do trabalho. Era o medo do vírus e das incertezas. Estava exposta minha versão vulnerável.

Quando comecei a trabalhar em home office, adotei uma postura zen — o que é o oposto de mim, pois gosto de agitação, barulho e vida meio caótica. Fazia exercícios físicos todos os dias, meditava ou rezava antes de dormir. Durou pouco tempo. O estresse do home office, que demanda atenção plena e o tempo todo, tirou-me desse eixo. Mas segui apostando nos florais e na atividade física.

Meu corpo logo acostumou-se e lá estava eu de novo mudando mais uma vez. Tornei-me a louca da arrumação, quer dizer, reencontrei-me com a minha versão, e mudei várias coisas no meu quarto. Primeiramente, para criar um ambiente de home office mais confortável. Depois, já estava desapegando de roupas, de sapatos e de tantas outras coisas que pareciam não fazer mais sentido no mundo de pandemia.

De novo, a roda girou e adotei outras novidades na minha rotina. Voltei a ouvir mais música, graças às lives, e os podcasts, que foram perdendo espaço por serem algo da rotina que envolve o carro. Ah, o carro, quem não se viu amando o ato de dirigir depois de meses preso dentro de casa?

No momento, vivo a minha versão dedicada aos estudos e à decoração. Inscrevi-me em vários cursos on-line. São tantos, que tive que anotar tudo numa agenda para não perder a hora. Junto a isso, agora, estou pintando a casa. Peguei tintas de uma obra antiga. Comecei pela mesa da varanda, mas, em breve, chegarei às paredes. E você, quantas versões suas já apareceram nesta quarentena? E quantas outras ainda aparecerão?