— Me diga uma última coisa, disse Harry. Isso é real? Ou está tudo acontecendo na minha cabeça?
— É claro que isso está acontecendo dentro de sua cabeça, Harry, mas por que isso deve significar que não seja real?, responde Dumbledore, sorrindo.
Outra obra cinematográfica marcante é Matrix, lançado em 1999. Quem não se surpreendeu com a inovação de linguagem trazida pelas irmãs Wachowski? A cena icônica envolve os dois principais personagens em um diálogo com referências a Platão e Lewis Carol, como se pode ver a seguir:
Morpheu: A Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga sua TV. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante de seus olhos para que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morpheu: Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não pode sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente. Infelizmente, é impossível dizer o que é Matrix. Você tem que ver por si mesmo. Esta é a última chance . Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul, a história acaba e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha, ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se: tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais.
O que existe em comum nos diálogos aqui reproduzidos? Em primeiro lugar, eles retratam a busca da humanidade por respostas aos mistérios cultivados na mente, num confronto que, geralmente, opõe realidade e imaginação. Além disso, procuram mostrar que o conceito de verdade não necessariamente está relacionado a evidências que a comprovem, um fenômeno presente fortemente nas redes sociais. São exemplos disso os milhões de seguidores que multiplicam ideias contra a vacinação (antivax) ou a favor do terraplanismo. E, em muitos casos, a proliferação de fake news contribui significativamente para a ampliação do universo de apoiadores. Não demorou muito para a atividade política encontrar nessa seara um terreno fértil.
O Congresso Nacional acabou de aprovar a PEC definindo as novas datas das eleições municipais. Quem pretende se candidatar às prefeituras e às câmaras municipais tem um enorme desafio, qual seja, fazer pré-campanha e campanha em meio a uma pandemia. Não é novidade dizer que, nesse cenário, o trabalho nas mídias e redes sociais ganha relevância ainda maior, quase absoluta. E boa parte de pré-candidatos declara saber como fazer isso. Tornou-se quase um senso comum.
Porém, a pergunta decisiva é: como fazer de forma eficaz? Para responder, passo a oferecer dicas.
A primeira é reconhecer que, como já escrevi em outras ocasiões, nas redes cada grupo segue suas verdades e crenças, pouco importando as evidências. Ou seja, quem vai se candidatar precisa, rapidamente, tratar de criar ou encontrar grupos “para chamar de seus”, que sejam formados por pessoas que sigam, apoiem e compartilhem suas ideias.
A segunda é identificar as redes nas quais os participantes têm perfis correspondentes ou relacionados ao eleitorado potencial que se busca alcançar. Ter milhares de pessoas inscritas em suas páginas não é garantia de apoio e, no limite, de voto. Há inúmeros casos de candidaturas que, nas últimas eleições, tiveram votação muito inferior aos respectivos números de seguidores.
A terceira é compreender que, no território da internet, está se lidando com pessoas que, como qualquer ser humano, são movidas pela emoção. Portanto, utilize mensagens que mexam com o emocional. Também é forçoso reconhecer que vivemos tempos instantâneos. Tudo é muito rápido. Assim, não adianta fazer vídeos ou textos longos. Suas ideias e propostas precisam ser capturadas em segundos.
Essas são apenas dicas preliminares que estão longe de esgotar o assunto. Quem deseja se aprofundar pode visitar o site focanaestrategia.com, onde há diversas publicações disponíveis sobre esse tema e outros relacionados às eleições. Aguardo vocês por lá.
* Consultor em estratégia
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