Opinião

Opinião: Minha vitrine

''Certamente, sou o autor das primeiras reportagens publicadas na imprensa brasileira sobre artistas que começaram a trajetória aqui e depois se consagraram nacionalmente, entre os quais, Oswaldo Montenegro, Rosa Passos, Renato Russo, Dinho Ouro Preto, Cássia Eller, Zélia Duncan, Natiruts e Hamilton de Holanda''

Correio Braziliense
postado em 24/06/2020 04:06
Irlam RochaÀs 10h do dia 24 de junho de 1975, coloquei os pés pela primeira vez nas dependências do antigo prédio do Correio Braziliense. Jovem repórter, cheio de sonhos, havia sido convidado por José Natal, o editor de Esportes, para fazer parte de sua pequena equipe. Antes de iniciar minhas atividades, estive na sala do exigente editor geral — cargo que hoje corresponde ao de diretor de Redação — Ari Cunha, para ser sabatinado.

Minha estreia foi na cobertura dos Jogos Estudantis Brasileiros, realizados aqui na cidade, quando entrevistei Wlamir Marques, chefe da delegação de São Paulo, que, anos antes, havia se tornado campeão mundial de basquetebol pela Seleção Brasileira.

Na mesma época, testemunhei, no Clube Unidade de Vizinhança, da Asa Sul, o início da carreira de Oscar Schmidt, que viria a ser um dos maiores astros desta modalidade esportiva no país e no mundo; assim como a de Paulo Victor, goleiro do Ceub, que se destacou no Fluminense e chegou à Seleção; e de Edmar, centroavante do Brasília, com passagem como goleador pelo Cruzeiro, Corinthians, Palmeiras e Flamengo.

Paralelamente à cobertura esportiva, já me mantinha ligado à música, manifestação artística pela qual sempre fui apaixonado. De passagem pela capital com a turnê de Refazenda, Gilberto Gil foi o primeiro grande nome da MPB a me conceder entrevista. Assim como ele, são incontáveis os cantores, compositores e músicos que se transformaram em personagens das minhas matérias — já como repórter de Cultura —, tendo por base shows apresentados, discos lançados ou outros assuntos relativos ao ofício que exercem. Além de Gil, tive o privilégio de ter me tornado próximo de Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Caetano Veloso, Roberto Menescal, João Donato e Guinga; e de merecer a atenção de vários outros nomes importantes da MPB.

Profissionalmente, acompanhei importantes eventos, como o Rock in Rio, o Hollywood Rock, o Free Jazz Festival, o Festival de Parintins, o carnaval de Salvador e os concertos de Madonna, Michael Jackson, Bob Dylan e Rolling Stones.
Fã dos Beatles, foi com grande emoção que participei da coletiva concedida por Paul McCartney, no camarim do Maracanã, antes de sua primeira apresentação no Brasil, em novembro de 1990.

Mas, ao longo da carreira, foi à música de Brasília que mais me dediquei. Certamente, sou o autor das primeiras reportagens publicadas na imprensa brasileira sobre artistas que começaram a trajetória aqui e depois se consagraram nacionalmente, entre os quais, Oswaldo Montenegro, Rosa Passos, Renato Russo, Dinho Ouro Preto, Cássia Eller, Zélia Duncan, Natiruts e Hamilton de Holanda.

O Correio abriu espaço ainda para matérias com personagens do underground do DF, ligados à música e ao universo LGBT. Um deles foi Vitoria — codinome de Vitor —, que interpretava Billie Holliday no musical Hello, Broadway!, na boate New Aquarius, no Conic. Uma curiosidade: Vitor era maquiador de Dulce Figueiredo, mulher do então presidente João Baptista Figueiredo, e costumava fazer parte da comitiva presidencial nas viagens internacionais, assistindo a primeira-dama.

Orgulho-me de estar entre os sócios fundadores do Clube do Choro, onde, em 2015, lancei o livro Minha Trilha Sonora — 40 Anos de Jornalismo Cultural; e de possuir a comenda de Cidadão Honorário de Brasília, concedida pelo deputado Chico Vigilante. Tudo isso me foi possível conquistar, por ter o Correio Braziliense como vitrine.

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