Opinião

Visão do Correio: Saúde e Educação acéfalas

''A Saúde tem à frente um interino, inexperiente na área, há mais de um mês. A Educação, que protagonizou sucessivas crises desde 1 de janeiro de 2019, espera a indicação de titular à altura dos desafios da pasta''

Perguntaram a Aloysio Campos da Paz por que a educação e a saúde eram tão precárias no Brasil. “Porque nós deixamos”, respondeu o fundador da Rede Sarah de Hospitais. E explicou: “As classes rica e média abandonaram a escola pública, a saúde pública e o transporte público. Deixaram os serviços do Estado para os pobres”.

A queda da qualidade não tardou. É da cultura brasileira considerar a excelência privilégio de quem pode pagar. Para os vulneráveis, qualquer remendo serve. A saída para reverter o quadro, segundo Campos da Paz, seria as autoridades serem obrigadas a andar de transporte público, matricular os filhos em escolas públicas, tratar-se em hospitais públicos.

Sai governo, entra governo, as cores partidárias mudam, mas a realidade se mantém. Foi necessária uma pandemia, que já matou mais de 50 mil brasileiros e ameaça avançar com celeridade nas estatísticas, a fim de chamar a atenção para a tragédia construída ao longo de décadas de descaso e negligência.

Além de abater o presente, a crise sanitária compromete o futuro. Milhões de alunos das redes municipais e estaduais de ensino estão sem aula adequada, impossibilitados de obedecer ao calendário letivo seja por atraso das escolas que ainda seguem modelos do século 19, seja por falta de acesso aos recursos tecnológicos necessários para o estudo a distância.

Apesar das catástrofes, porém, os dois ministérios responsáveis pela construção da cidadania se encontram acéfalos. A Saúde tem à frente um interino, inexperiente na área, há mais de um mês. A Educação, que protagonizou sucessivas crises desde 1º de janeiro de 2019, espera a indicação de titular à altura dos desafios da pasta.

Os dois anteriores, movidos por ideologias extemporâneas, perderam-se na poeira do tempo. Soma-se à ausência de projetos, a ignorância das urgências do setor. Vale o exemplo do Fundeb. Passados 18 meses das desastradas gestões, não se tem clareza sobre o fundo, cuja vigência expira em dezembro. A não aprovação da PEC que tramita no Congresso (sem a participação do MEC) fechará o cofre: porá em risco funcionamento de 65% das escolas do ensino fundamental.

Passou da hora de olhar com responsabilidade para os dois setores. Precisa-se de ministros comprometidos com a ciência, os avanços tecnológicos e o bem comum. Impõe-se avançar. Universalizar o acesso à educação e à saúde constituiu passo importante, mas não suficiente. Urge o compromisso com a qualidade. Campos da Paz apontou o caminho. O esforço terá sido coroado quando as classes privilegiadas considerarem o serviço público melhor que o privado.