Mais de um milhão de casos diagnosticados de covid-19 e mais de 50 mil mortes em decorrência da doença. Esses são os dados da pandemia no Brasil. E, mesmo assim, o país, que está longe de ter a doença controlada, vive momentos de retorno à normalidade.
Dividindo espaço com um hospital de campanha, o Maracanã foi palco do jogo entre Flamengo e Bangu pelo retorno do Campeonato Carioca na última quinta-feira. Na sexta, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília e um dos epicentros da doença na cidade, a alta sociedade fazia festas quebrando a quarentena.
Em ambos os casos, a justificativa foi de que estavam cumprindo todos os protocolos, inclusive, o da realização de exames para diagnosticar a doença. Uma ironia num país que não conseguiu ainda testar a população em massa e que sofre com a ausência de exames rápidos nas redes públicas para quem realmente precisa confirmar o diagnóstico da doença.
No domingo, uma das imagens mais compartilhadas nas redes sociais foi a da reabertura do Beto Carrero World, no litoral de Santa Catarina, em que era possível ver pessoas sem máscaras. A impressão era de que estavam todos muito próximos, sem cumprir o distanciamento social.
É natural que, em algum momento, o Brasil retome atividades não essenciais. No entanto, não parece ser agora o melhor momento — até porque, não faltam alternativas. Em outros países, isso aconteceu conforme o ritmo de contaminação pelo novo coronavírus foi caindo. Por aqui, ainda temos média de mil mortes pela covid-19 por dia.
Essa “sensação de normalidade” —muito bem descrita nas redes sociais por Mariana Fernandes, cofundadora da Rede Fluida, rede de empreendedorismo feminino — que paira no país é de assustar. Todos nós queremos voltar à vida normal. Mas, enquanto pessoas morrem todos os dias, parece egocentrismo nutrir-se dos privilégios que dão a impressão de que está tudo bem e controlado.
É importante ressaltar que, em pandemias anteriores, como a da gripe espanhola, em 1918, houve outras ondas de contágio após o inicial controle da doença. No Brasil, nem saímos da primeira onda, que se arrasta há quase quatro meses. Situações como as citadas acima podem, sim, ser novos epicentros, além de colaborarem, negativamente, para a quebra do isolamento social, que é uma arma importante contra o novo coronavírus, que ainda está se disseminando pelo país.