Desde a instauração da pandemia da covid-19, o governo vem tomando medidas para amenizar seus efeitos negativos. Uma delas foi o isolamento social, com o fechamento dos estabelecimentos considerados não essenciais para a população. Com isso, os comerciantes viram as receitas recuarem enquanto os custos se mantinham constantes e cada vez mais difíceis de serem cumpridos.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou medidas para auxiliar os empresários, disponibilizando crédito para auxiliar vários setores da economia, entre eles, o setor de saúde. O BNDES anunciou uma linha de crédito emergencial orçada em R$ 2 bilhões destinada a hospitais e laboratórios privados com faturamento acima de R$ 300 milhões ao ano.
Outro setor que também teve medidas destinadas a melhorar a situação econômica foi o de etanol. O BNDES elaborou um programa de apoio ao setor sucroalcooleiro, que disponibilizará entre R$ 10 milhões e R$ 200 milhões para empresas, cooperativas e empresários individuais com receita operacional bruta igual ou superior a R$ 300 milhões.
A instituição não está apenas preocupada em ajudar as atividades econômicas, mas o país em geral. Ela suspendeu até dezembro deste ano a cobrança das dívidas tomadas por estados, municípios e o Distrito Federal. Essa medida corresponde a um valor de R$ 3,9 bilhões. Também vai prorrogar os prazos das operações até o fim do ano.
A facilitação ao crédito, porém, pode não alcançar todos os empresários que necessitam. Apesar da inundação de moeda no mercado de crédito, as empresas são cautelosas antes de recorrer ao financiamento. Esse fato pode ser observado nos dados oficiais do Banco Central, que mostraram que as concessões de crédito livre para as pessoas jurídicas foram reduzidas em 27,1% em abril.
Uma explicação para essa situação é que não basta aumentar as opções de empréstimos. As organizações precisam ter condições de pagar os recursos e ter tempo o suficiente para fazê-lo. Para isso, os juros têm de ser razoáveis e os prazos mais longos, pois, em um ambiente incerto como o atual, os empreendedores só correrão o risco de tomarem empréstimos se tiverem certeza das condições futuras.
O Banco Central já vinha em tendência de redução na Selic e, com a crise, ele intensificou esses cortes. Na última reunião do Copom, a Selic alcançou o patamar de 2,25%, o menor nível histórico. Um dos benefícios da medida é diminuir o custo das dívidas e permitir que as pessoas físicas e jurídicas tenham maior acesso ao crédito para poderem arcar com os gastos e não se tornarem inadimplentes. Com esse movimento, a taxa de juros para pessoas jurídicas atingiu o menor nível histórico em abril, 13%.
Enquanto a Taxa de Longo Prazo (TLP), referência para os empréstimos do BNDES, chegou a ser reduzida dois anos atrás, mas foi devido à TJLP ter sido ficado superior à TLP em situação em que os juros estavam caindo. Os juros de longo prazo caíam mais rápido que os curtos, no momento a tendência está ao contrário. Logo, as empresas conseguem créditos mais baixos indexados à Selic do que com o BNDES. Essa instituição somente se tornará competitiva com subsídios, como acontecia com a TJLP.
A taxa Selic se encontra em queda, contudo a TLP é considerada alta para o momento. Com isso, os empresários acreditam que os custos dos recursos oferecidos pelo BNDES são caros demais e, assim, não permitem que esse capital atinja seus objetivos. Devido à alta taxa de financiamento, o BNDES se torna não competitivo no mercado de crédito. Para aproveitar sua vantagem competitiva, os bancos privados estão elaborando programas de crédito para pequenas e médias empresas com o aval do governo. Isso porque são mais rápidos e eficientes do que os públicos.
A principal vantagem do BNDES é que pode emprestar para infraestrutura de longo prazo sem estar descasado, pois não precisa se preocupar em não perder depósitos no curto prazo. Portanto, ele só é competitivo no prazo longo, porque dilui os custos da TLP e consegue cobrar juros mais baixos, já que não precisa buscar liquidez no mercado.
* Economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC)