As promessas são muitas, mas, até hoje, as micro e pequenas empresas brasileiras não viram a cor do dinheiro que deveria estar à sua disposição depois da deflagração da profunda crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. O governo tomou iniciativas para destravar as linhas de crédito, porém, elas mostraram-se inócuas. As instituições financeiras, tanto públicas quanto privadas, não vêm atendendo às necessidades de financiamento dos negócios menores. Os micro e pequenos empreendedores são os mais atingidos pela paralisação da economia, desde meados de março, quando as autoridades começaram a tomar as primeiras providências de isolamento social para conter a expansão da covid-19.
A verdade é que a liberação de financiamentos está praticamente estancada. O dinheiro continua represado nos bancos e os empresários não conseguem ter acesso aos empréstimos devido, sobretudo, às altas taxas de juros e à exigência de garantias para quem está parado há mais de dois meses. E eles precisam dos recursos, com urgência, para garantir o fluxo de caixa e não serem obrigados a fechar as portas. O problema é que, no Brasil, o crédito para as micro e pequenas empresas esbarra em questões estruturais. O próprio presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reconheceu, em audiência no Senado Federal, que "há um descompasso entre oferta e demanda de crédito".
Um das principais dificuldades é a quase informalidade de número expressivo de microempresas e microempreendedores individuais (MEIs), que têm uma contabilidade nem sempre eficiente, histórico de dívidas e pouco contato com as linhas de financiamento do sistema financeiro. Entrave irremovível é o estudo de concessão de um empréstimo. Ele é feito de maneira individual e, na conjuntura atual, há um aumento expressivo da percepção de risco com a elevação da inadimplência e a possibilidade de insolvência das empresas.
Economistas apontam que em momentos como o atual, com forte recessão, os bancos querem garantias concretas e os empresários têm dificuldade em demonstrar fluxo de caixa futuro, o que garantiria o pagamento do empréstimo. As instituições financeiras, por seu lado, alegam que não podem conceder crédito a quem se mostra um potencial inadimplente. Diante desse cenário, economistas defendem que o governo tome a iniciativa de socorrer, diretamente, as micro e pequenas empresas mais fragilizadas, assim como fez com os trabalhadores informais por meio do auxílio emergencial de R$ 600.
Não se pode esquecer que os nove milhões de micros e pequenos negócios são responsáveis pela geração de 27% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa quase R$ 2 trilhões, além de 52% dos empregos com carteira assinada e 40% dos salários pagos no país. Por isso, a importância de o Ministério da Economia avançar nos estudos para a liberação de créditos emergenciais para o setor, conforme já admitiu o ministro Paulo Guedes.