Opinião

Visão do Correio: apertar o cerco

''As medidas de relaxamento do isolamento social, com a retomada de atividades econômicas não essenciais, precisam ser acompanhadas de perto pelas autoridades, que não podem titubear caso haja a elevação das taxas de contaminação e a necessidade de se voltar atrás com a flexibilização''

O Brasil encontra-se em momento crucial para poder chegar à estabilização do contágio do novo coronavírus, apesar do crescente número de mortes e infectados registrado, diariamente, em todo território nacional. A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que o país dá sinais de que a pandemia está se estabilizando e que a hora é de a população intensificar os cuidados indicados pelo órgão, como rigoroso distanciamento social e higienização constante — em casos mais extremos a quarentena e até o lockdown —, para que se possa vislumbrar o declínio de óbitos e o volume de contaminados pela expansão da covid-19 nas próximas semanas.

As medidas de relaxamento do isolamento social, com a retomada de atividades econômicas não essenciais, precisam ser acompanhadas de perto pelas autoridades, que não podem titubear caso haja a elevação das taxas de contaminação e a necessidade de se voltar atrás com a flexibilização. O acompanhamento da pandemia pela OMS mostra que muitos outros países onde o índice de contaminação se estabilizou apresentaram, rapidamente, aumento expressivo de casos da covid-19 por causa da precipitação no afrouxamento do isolamento.

Especialistas da organização internacional recomendam que o poder público brasileiro dê atenção especial às comunidades carentes, garantindo apoio para que elas possam seguir as recomendações de distanciamento social e de higiene. Na avaliação de dirigentes da OMS, o Brasil tem histórico de combate a epidemias reconhecido internacionalmente e se tiver um planejamento eficiente e coordenado, envolvendo as três instâncias públicas de saúde (federal, estadual e municipal), não há porque o país não obter sucesso no enfrentamento da atual pandemia, responsável pela profunda crise sanitária e econômica.

A Imperial College London (Reino Unido), instituição conhecida mundialmente por suas pesquisas epidemiológicas, confirma que o contágio do novo coronavírus, no Brasil, vem declinando por três semanas seguidas. A desaceleração, no entanto, não significa que a doença esteja sob controle. A taxa de contágio ainda está acima do indicador 1, mas já esteve em 2,8 no início de abril. Na semana passada, era de 1,08 e, para esta semana, é calculada em 1,05. Na América do Sul, outros cinco países com transmissão ativa apresentam índices maiores: Bolívia e Peru (1,36), Argentina (1,29), Chile (1,12) e Colômbia (1,1).

A situação em todo o continente americano preocupa a OMS, que insiste com os governantes para não se relaxarem com o distanciamento e o isolamento social, quando necessários para que a pandemia possa ser controlada. A hora é de apertar o cerco à covid-19, e não de tomar medidas apressadas para a volta à normalidade.