As fundações de pesquisa do país abrigam verdadeiro patrimônio nacional, hoje representado por milhares de cientistas que desenvolvem, anualmente, cerca de 18 mil projetos. As áreas são as mais diversas e englobam desde as engenharias às ciências biológicas e humanas — as últimas vêm sofrendo ataques de cunho ideológico e tentativas sistemáticas de esvaziamento por parte de setores governamentais. As fundações de apoio à pesquisa são responsáveis pela distribuição de 41 mil bolsas e pela captação de cerca de R$ 5 bilhões, por ano, para instituições federais de ensino superior (Ifes), o motor do conhecimento científico brasileiro.
Numa amostragem feita em 34 fundações das 97 filiadas ao Ifes, perto de mil pesquisadores são contratados apenas em projetos desenvolvidos pela Petrobras. Os cortes anunciados, recentemente, sobre uma verba de R$ 430 milhões, pode provocar a demissão de mais de 900 cientistas. Trabalhos fundamentais para o desenvolvimento do país serão interrompidos e equipes valiosas extintas, causando prejuízo incalculável para o conhecimento científico.
Sempre é bom lembrar que os investimentos feitos pela empresa estatal na ciência proporcionaram o desenvolvimento de tecnologia revolucionária na exploração de petróleo em águas profundas, o que levou o Brasil à autossuficiência, sonho acalentado desde meados do século passado. Os cortes agora anunciados são o retrato de um país em que a ciência não é tratada como deveria e que a supressão de recursos para o setor ocorre, de forma constante, pelo menos nos últimos cinco anos.
Especialistas sugerem que os contratos de trabalho dos pesquisadores ameaçados sejam trocados por bolsas de estudo, pelo menos enquanto o país estiver em situação de emergência nacional em função do novo coronavírus. Isso permitiria a continuidade das pesquisas em andamento, já que uma bolsa tem custo muito mais baixo do que os contratos regidos pela CLT. Não se discute que a conjuntura econômica seja desfavorável em meio à pandemia, mas, mesmo assim, os pesquisadores brasileiros têm de ser preservados, sob o risco de o país ter de pagar uma conta muito cara em um futuro nem tão distante.