A crise está de quarentena
Fernando Henrique Cardoso, quando era senador pelo MDB, costumava dizer da tribuna, todas as vezes que o então presidente José Sarney saía do Brasil: “A crise viajou”. Com isso, o político pretendia ligar diretamente à pessoa do primeiro presidente da República eleito, depois da redemocratização, as seguidas crises que aconteciam naqueles anos do governo Sarney (1985-1990).
Embora a frase tenha ficado injustamente famosa, ao imputar ao governo Sarney a avalanche de crises que ocorriam, numa época em que o ambiente político se encontrava totalmente confuso, com a sociedade civil e o Estado procurando se acertar depois de mais de duas décadas de governos militares.
Os nossos presidentes, desde 1889, são sempre associados como princípio e fim das instabilidades políticas. Isso decorre das características sui generis de nosso sistema presidencial, centralizador, com doses de um personalismo anacrônico, herdado do tempo da monarquia, quando os Poderes e o próprio rei se fundiam numa só entidade de Estado.
Hoje, até de forma grotesca, essa mesma imagem voltou a ser, apropriadamente, associada ao atual governo. Só com uma diferença básica: ao contrário dos demais presidentes, Bolsonaro tem, dia sim e outro também, chamado as crises para si, dando vulto exagerado a problemas, que, em mãos politicamente mais hábeis, passariam imperceptíveis. O presidente é hoje, na visão de 10 em cada 10 analistas e na de muitos políticos veteranos, a origem e o destino das crises que surgem e vão se avolumando a cada dia à sua volta.
Diferentemente de outros presidentes, Bolsonaro passou a encontrar nas crises em que dá vida, um mote e uma estratégia para seguir governando enquanto se mantém como centro das atenções. O problema com essa tática bipolar, que para outros representaria um suicídio político, é que ela expõe a nudez de um governo que, apesar de vários projetos em andamento, parece não ter sido iniciado ainda. As consequências negativas dessa performance vão aparecendo dentro e fora do país.
Para alguns, esse modo pouco litúrgico de agir na Presidência pode resultar, num momento derradeiro, na construção de um enorme labirinto a aprisionar todos igualmente. Enquanto procura a estrada por onde encaminhar seu governo, sem que o barulho externo atrapalhe, os efeitos nefastos seguem encolhendo oportunidades e fechando portas ao Brasil.
O governo da Holanda comunicou, agora, que seu país não apoiará os acordos firmados entre o Mercosul e a União Europeia, o que pode render grandes prejuízos a todos nós. No caso da crise econômica mundial ganhar contornos mais sérios, depois da pandemia, os analistas de mercado acreditam que, dificilmente, o Brasil atrairá a atenção de novos capitais. Empresas estrangeiras que passaram a buscar uma imagem de interação harmônica com o meio ambiente também vão se afastando do Brasil, que é visto hoje, no exterior, como um pária na questão ambiental. Isso talvez explique, em parte, porque a crise não tem viajado como faziam com outros presidentes no passado, o que tem levado muitos a afirmar que a “crise” está hoje em quarentena entre os Palácios do Planalto e da Alvorada.
- A frase que foi pronunciada
“O justo é o primeiro acusador de si próprio.”
L. de Tobiás, jurista francês
Gratidão
» É preciso registrar elogios também. Um deles é da família de um rapaz que teve o cérebro operado. Ele foi atendido no Hospital de Base. Garoto novo, alegre, responsável, de repente é surpreendido com a necessidade dessa cirurgia. Dois dias depois, está totalmente recuperado. A família agradece, principalmente, pelo atendimento humanizado, tão importante para a recuperação quanto a competência médica. Desde o apoio de uma equipe de psicólogos até o funcionário da limpeza, que dá bom dia com um sorriso.
UberEats
» Não adianta reclamar. Se esqueceu de mudar o endereço da entrega de casa para o trabalho, a venda é cancelada e não há ressarcimento.
R$ 600
Usuários do cartão dado pelo governo elogiam a tecnologia aplicada. Quando o contemplado for fazer uma compra, basta apontar o celular para um QR code que o dinheiro é liberado para o pagamento.
Mão na massa
» Estudantes e educadores da universidade paulista São Judas reuniram-se para desenvolver uma série de materiais educativos para orientar e conscientizar a população leiga e os profissionais da saúde sobre a importância de adotar medidas de prevenção e o uso de equipamentos de proteção individuais em meio à pandemia do coronavírus. Os conteúdos estão disponíveis de forma gratuita por meio de eBook, histórias em quadrinhos, sites, vídeos, WhatsApp e redes sociais relacionadas a cada tema. Veja como é fácil acessar no Blog do Ari Cunha.
- História de Brasília
O problema merece mais estudos, merece solução
humana, sem deixar de ser enérgica para com os
que invadem terras alheias. (Publicado em 9/1/1962)