Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, é preciso levantar a voz contra a destruição ambiental que tem sido perpetrada no Brasil. Diante da trágica ascensão do Sars-CoV-2 que, desde o início do ano, vem deixando, por onde passa, o rastro de milhares de vidas perdidas, devastando a reboque paradigmas sociais e econômicos, tudo o mais parece insignificante. Parece, mas não é.
O desmonte da política socioambiental brasileira, tão debatido durante 2019, não tem tido, neste momento de aflição pelo novo coronavírus, a devida repercussão fora dos círculos que militam pela causa. No entanto, os ataques não têm arrefecido. Pelo contrário, aproveita-se o foco na crise sanitária e nas absurdas crises políticas gestadas dentro do próprio Executivo federal, para dar força aos que lucram com a destruição dos nossos biomas.
Num verdadeiro estouro de boiada — como defendeu o ministro do Meio Ambiente em episódio lamentável da história do país —, estamos vendo o desmatamento disparar na Amazônia, a Lei da Mata Atlântica ser enfraquecida e a tentativa de regularizar a grilagem, verdadeiro incentivo a comportamentos criminosos. Os problemas enfrentados pelos povos indígenas, que são, a meu ver, indissociáveis da questão florestal, atingem contornos que vão muito além das promessas de campanha de não demarcação de novas terras. Uma política de extermínio, se não abertamente biológico, escancarada do ponto de vista cultural, avança a passos largos.
As dificuldades do sistema de saúde ensinam a valorizar um princípio muito caro aos sociambientalistas, o da precaução. Já assistimos a discussões sobre medidas de mitigação dos estragos das próximas grandes crises sanitárias, desde como estruturar melhor a indústria local de suprimentos médico-hospitalares, até a necessidade de combater a desigualdade estrutural que relega grande parte do povo à pobreza. A taxação das grandes fortunas e a renda mínima estão, finalmente, impondo-se na ordem do dia para a reestruturação socioeconômica do pós-pandemia.
Aqui, em Brasília, estamos cumprindo com nosso dever, cuidando das bacias hidrográficas, com programas de proteção de nascentes, implementando sistemas agroflorestais mecanizados, recuperando áreas degradadas, revitalizando e ampliando os parques, desburocratizando as licenças ambientais. Fizemos o diagnóstico de contaminação do Lixão e estamos realizando teste piloto de fitorremediação, com espécies do cerrado, entre outras ações.
Reformulamos nossos canais digitais, de modo a ampliar e melhorar nossas interfaces para a comunicação com a sociedade, com renovação do site da Secretaria e abertura para diferentes redes sociais. Queremos, cada vez mais, estreitar a interlocução com a população, pois a transparência e o controle social são peças fundamentais para o sucesso da gestão pública.
A visão da pandemia como reação da natureza às agressões sofridas pode parecer a muitos apenas metáfora romântica, abordagem exotérica num momento de problemas muito mais sérios. Na verdade, trata-se do oposto, isto é, da compreensão, sobre bases científicas, de que o desequilíbrio dos serviços ecossistêmicos do planeta acarretam, inevitavelmente, danos às populações humanas.
A perda dos habitats empurra animais silvestres — com os patógenos que hospedam — para os ambientes urbanos. A redução dos predadores implica a proliferação desenfreada de algumas espécies. Há muitos anos convivemos com o dramático exemplo das múltiplas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, que avançou sobre os centros urbanos.
Por seu lado, com o isolamento social alcançando um terço da população mundial, evidenciou-se, na prática, através de fotos comparativas, o impacto brutal das atividades do homem sobre a emissão de gases poluidores e causadores do efeito estufa na atmosfera. Cuidar da saúde ambiental é, portanto, condição essencial, não secundária, para preservar a saúde humana. É ponto pacífico, entre médicos e cientistas, que outras pandemias virão. Para enfrentá-las, será necessário conduzir a sociedade sobre novas bases. É fundamental, para nossa sobrevivência, que elas sejam mais justas, igualitárias e sustentáveis.
* Secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal, foi ministro do Meio Ambiente (1999 a 2001 e 2016 a 2018)