Nos últimos 100 anos, a indústria farmacêutica tem contribuído de forma decisiva para melhorar a vida das pessoas, quase dobrando a expectativa de vida da população. No momento em que nos deparamos com a covid-19, existem mais de 100 projetos para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos, em diferentes estágios de pesquisa e em diversos países. A maioria deles, com participação da indústria farmacêutica.
Paralelamente, dezenas de medicamentos já disponíveis para tratamento de outras doenças estão sendo testados para saber se também são eficazes contra o novo coronavírus, o que permitirá reduzir internações, controlar os casos mais graves e evitar mortes. A situação é dramática, e a indústria farmacêutica não medirá esforços para superá-la com as comunidades médicas e científicas, autoridades e instituições internacionais de saúde. É o que o setor tem feito desde o século 19.
Em 1928, Alexandre Fleming descobriu a Benzilpenicilina, ou penicilina G, o primeiro antibiótico amplamente utilizado na medicina. Somente 13 anos depois, Fleming e seu grupo purificaram o produto e passaram a produzi-lo em escala industrial, o que demonstra quão difícil é fabricar um medicamento que salvou milhares de vidas durante a 2ª Guerra Mundial e salva centenas de milhares de lá para cá. O desenvolvimento da indústria farmacêutica desde Fleming até os dias atuais tem sido extraordinário. Essa indústria faz e fará saúde.
Em 1940, quando a penicilina G foi introduzida no mercado, a expectativa de vida média do brasileiro era de 45 anos. Em 2019, quase 80 anos depois, beira os 78 anos para os homens e mais de 80 para as mulheres, ou seja, tivemos um ganho de mais de 30 anos, com qualidade. Por óbvio, não foi apenas a penicilina G a responsável por esse incremento. Centenas de outros produtos foram desenvolvidos por meio dos profissionais da saúde, criando um arsenal terapêutico que faz esse milagre acontecer todos os dias.
Mas se é uma indústria que consegue fornecer a caixinha que salva vidas, que cura as pessoas, que prolonga a vida com qualidade, por que é tão pouco reconhecida pela sociedade? Porque os medicamentos são caros e “saúde não tem preço”. Essa é uma resposta clássica. De fato, saúde não tem preço, mas tem custo, e custo muito alto. De acordo com a Universidade Tufs, nos Estados Unidos, o desenvolvimento de novo fármaco leva mais de 10 anos e custa, conforme estudo de um centro especializado daquela instituição, o equivalente a R$ 8,2 bilhões.
O preço do medicamento está diretamente relacionado ao custo de desenvolvimento e à necessidade de pagar o investimento feito para viabilizar o financiamento de novos produtos. Existem produtos baratos e caros. Por exemplo, no Brasil, uma caixa de genérico custa pouco mais de R$ 6, em média, e um similar ou novo, menos de R$ 20, segundo levantamento da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (relatório Sammed divulgado no ano passado).
E agora, no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, não será diferente. Ainda que os governos destinem bilhões de dólares para cuidar da economia, muito deverá ser investido nos centros de pesquisa e hospitais de onde sairão as vacinas e medicamentos que trarão a tranquilidade de que o mundo necessita.
Sendo assim, o bem-estar coletivo repousa na definição de uma fórmula adequada e sustentável de custeio e financiamento do sistema de saúde. Que, no caso brasileiro, passa pela correta remuneração de todos os elos, públicos e privados: médicos, profissionais de saúde, hospitais, prestadores de serviço, institutos de pesquisa e, sem dúvida, a indústria farmacêutica.
De sua parte, a indústria farmacêutica instalada no país advoga uma regulação econômica e de mercado que lhe permita, sem privilégios, instalar fábricas, criar empregos, manter centros de P&D, etc., para continuar investindo em produtos indispensáveis à população, com níveis crescentes de qualidade, eficácia e segurança. Esse é o preço da saúde. Vale lembrar: é dessa indústria, pouco reconhecida, que sairá a solução da crise.
* Presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) e membro do Conselho Nacional de Saúde
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