Se você está sentindo que o grau de cobrança nesta quarentena está exagerado, bem-vindo ao time dos que brigam pelo direito de não fazer nada nas poucas horas de folga que sobram. Como se não bastasse o excesso de trabalho doméstico e profissional, tenho me sentido culpada por não estar, neste exato momento, assistindo a uma live que traça um panorama do avanço do coronavírus, ou ouvindo um podcast que analisa o novo cenário político, ou, pior, fazendo um curso on-line que vai dar as ferramentas necessárias para uma guinada na minha carreira.
Não sei você, mas a impressão que tenho é de que todos vão sair deste período de isolamento mais cultos, cheios de diplomas e mais sarados, enquanto eu serei a única que terei perdido meses de aprendizado e desenvolvimento pessoal. Sim, porque todos os dias sou bombardeada por uma quantidade absurda de ofertas de aulas que vão me deixar especialista em alguma coisa. Isso sem contar a pressão por manter a rotina de exercícios em videoaulas, que vão garantir que não saia desta quarentena rolando por aí.
Não me entendam mal os que têm agarrado cada uma dessas oportunidades de crescimento com afinco. Deixo aqui a minha admiração — e uma pitada de inveja — por vocês. Também agradeço todos os dias por estarmos passando por este momento tão delicado em 2020 e não há 20 anos, por exemplo. Imagina se estivéssemos confinados com uma internet discada, sem tevê por assinatura ou streaming, sem 4G ou longe das redes sociais?
Sabe o que tem mantido a minha sanidade nesses dias de confinamento? Cozinhar para a minha família — sem a obrigação de devorar todos os canais de gastronomia disponíveis para me tornar a próxima chef da cidade —; assistir a séries e filmes (muitos deles que não me obriguem a pensar em nada, por que não?); ler os livros que andavam encostados e, sobretudo, curtir a minha família. Será que algum dia terei, de novo, esta oportunidade de passar 24 horas do dia com eles? O que me alenta é que não estou sozinha nessa. Não à toa, a Netflix dobrou o lucro no primeiro trimestre de 2020 com relação ao mesmo período de 2019. Em apenas três meses, o serviço de streaming ganhou 15,8 milhões de novos assinantes.
Agora, tenho que admitir. Uma modinha desta quarentena que me pegou de cheio foram as lives dos artistas. Tem coisa mais gostosa do que se emocionar com os clássicos de Roberto Carlos, dançar ouvindo Lulu Santos, tomar uma cerveja ao som de Zeca Pagodinho ou se deliciar com os convidados de Teresa Cristina?