“Só sei que nada sei” talvez seja a melhor síntese do desafio imposto ao mundo pelo novo coronavírus. Sócrates, ao proferi-la, tem a humildade de reconhecer a própria ignorância. Longe de conformismo, a frase do filósofo grego expressa a necessidade de ir em frente na busca do conhecimento que nunca se esgota.
O Sars-Cov-2, apresentado ao mundo em fins de 2019, era um enigma. E continua a sê-lo. Como uma cebola cujas camadas se vão retirando, o vírus é multifacetado. No começo, parecia doença pulmonar que atacava idosos e pessoas com comorbidades como diabéticos, obesos e hipertensos.
Depois, constatou-se que também provoca ataques cardíacos. Mais tarde, que causa danos nos rins e acúmulo de coágulos sanguíneos. Em seguida, que responde por acidente vascular cerebral em jovens até assintomáticos. Mais recentemente, que acarreta doença inflamatória grave em crianças de um a cinco anos de idade.
Em suma: ainda pouco se sabe sobre a covid-19. O tempo se encarregará de exibir mais evidências de avarias por ela causadas no organismo. Também permitirá que se encontre vacina e remédio eficazes contra o mal. Cientistas dos cinco continentes lutam contra o calendário no esforço de descobrir a saída por que 7,8 bilhões de pessoas esperam.
O Brasil apresenta números assustadores. Três meses depois da detecção do primeiro contágio, aproxima-se dos 20 mil óbitos, 300 mil infectados e 1.200 mortos em 24 horas. Um em cada sete novos casos registrados no mundo é brasileiro. Especialistas afirmam que, em breve, o país contará os cadáveres por hora. Em seguida, por minuto.
Apesar da maciça cobertura feita pelos meios de comunicação, a maioria da população parece ignorar o risco que corre e a ameaça de se tornar vetor do vírus caso ignore o isolamento social. São Paulo, epicentro da crise no Brasil, serve de exemplo. A cidade está chegando ao pico da curva. A continuar a velocidade do crescimento, o sistema de saúde entrará em colapso no máximo em três semanas.
Mesmo assim, os paulistanos negligenciam os apelos das autoridades. O prefeito antecipou feriados para reduzir a circulação de pessoas. Sem sucesso. Outras urbes já enfrentam a falta de profissionais, vagas, UTIs e respiradores. A sensatez recomenda evitar o contágio pelo coronavírus. Governo e povo devem falar a mesma língua. Não se trata só de empatia. Trata-se, sobretudo, de sobrevivência. Enquanto os cientistas não decifrarem o enigma, o monstro continuará a devorar vidas.