Confidências ao general Mourão
Sem a sensibilidade das mais altas autoridades, como tem sido largamente apregoado, será impossível superar a grave situação vivida pelo Brasil. Com essas correções pontuais ao texto do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, esse espaço humildemente se propõe a colocar numa ordem de coerência, dentro do que está por demais visto, o texto publicado nesta semana sob o título: “Limites e responsabilidades”.
De antemão, é conhecido o exercício hercúleo que o general vem empreendendo, no espaço que lhe cabe, para recolocar o capitão reincidente e indisciplinado de volta à linha do bom senso e do comedimento. Está claro que a pandemia é um somatório de questões que vai da saúde, por seus efeitos sociais, atinge a área econômica, pela paralisação das atividades, chegando, na visão de Mourão, a alcançar a área de segurança, pelos reflexos que possivelmente trarão no aumento da violência, nas suas mais variadas formas.
Por isso mesmo é sistêmica. Mas ao contrário do que imagina o autor do texto, ela pesa sobretudo a um poder em especial e por uma razão até prosaica: nosso modelo de República é de viés imperial. Jair Bolsonaro, ou a Constituição em pessoa, como ele se reconhece, confessa essa contradição de nosso federalismo e, por diversos meios tem feito um exercício frustrado para enquadrar os governadores ao seu modo de governar. Ao contrário do que senhor, a priori, imagina, a pandemia provocada pelo covid-19 não é, em sua essência, uma crise política. É, sim, uma crise de saúde pública e de gestão restrita à área de saúde. Também não pode ser combatida apenas pela ação do Estado, como tem sido largamente confirmada pela ação beneficente de empresas da iniciativa privada e pelos movimentos sociais de solidariedade existentes em muitas comunidades.
Talvez seja essa ideia de centralismo que tem dificultado uma ação mais coordenada por parte do Estado. O novo coronavírus encontrou no Brasil, terreno propício para transmutar-se, evoluindo de organismo patogênico para uma enfermidade política sem precedentes. É fato que parecemos estar indo rumo ao caos por fatores, que, diferentemente do que o senhor acredita, têm como sua origem centrada e conhecida por todos. É, ainda, um fato que o radicalismo desses tempos e sua filha predileta, a polarização extremada, fogem das mesas de negociação e dos diálogos.
Por certo a imprensa, com todo o poder que a comunicação lhe outorga, necessita constantemente rever procedimentos, mas sem nunca abdicar da realidade, dos parâmetros racionais e até científicos, como tem sido o caso em muitos relatos. É também um fato triste a constatação de que vivemos tempos de degradação do conhecimento político, por parte daqueles que deveriam usá-lo de maneira responsável e isso serve para todos indistintamente, a começar pelo presidente da República, o maestro, e, afinal, responsável neste momento pela grande orquestra desafinada que é o Brasil.
Ninguém pode contestar que desde a promulgação da Carta de 88 os três Poderes vêm atropelando-se uns aos outros e isso denota, mais uma vez, os modelos tanto eleitoral quanto de indicação para as cortes. No entanto, é preciso ir com calma com relação ao desempenho do Ministério Público, de fato um grande avanço trazido pela Constituição, mas que o modelo centralizador de indicação dos procuradores vem deturpando.
Infelizmente, sob o ponto de vista da história do Brasil, a proclamação da República, como golpe efetuado contra a Monarquia Constitucional, não conseguiu, depois de séculos, levar o Brasil a um bom porto, o que tem custado muito caro ao país e à sua população. Também o prejuízo à imagem do Brasil no exterior, um fenômeno tão antigo, vem sendo, sobremaneira, aumentado pelo desempenho confuso do atual governo.
É bem verdade que os governos passados muito mal fizeram aos brasileiros, sobretudo aqueles de esquerda, capitaneados por Lula e seus postes. Mas eles tiveram ao menos a esperteza de silenciar diante do que acontecia o que dava a impressão de que faziam alguma coisa. O senhor melhor do que ninguém sabe que os efeitos de paralisação da economia provocados pela pandemia têm aspectos que vão desde a saúde da população a uma disputa política acirrada entre os diversos personagens em questão. Mas é fato, também, que o espírito belicoso e irascível do atual presidente, avesso a entendimentos, está na raiz desse problema. Por fim, nessa altura dos acontecimentos, é da concordância geral que fosse o senhor a liderar esse momento especial de crise, os desdobramentos positivos seriam outros e muitos mais necessários para o país.
A frase que foi pronunciada
“Nenhuma coisa é mais própria do ofício de rei do que falar pouco e ouvir muito”
Saavedra Fajardo, diplomata espanhol
Arte
A pandemia tocou direto na alma dos artistas. Atores, cantores, orquestras, poetas. Veja no Blog do Ari Cunha como fala a alma da prata da casa Adriana Bernardes. Crônicas e poemas para acalmar o juízo, como falaria o filósofo de Mondubim.
Iphan
Também no Blog do Ari Cunha a manifestação recebida e assinada pelo Conselho Deliberativo do Icomos/Brasil sobre as recentes nomeações para a direção do Iphan.
História de Brasília
Não é só isto, porque um exemplo para as demais não será tão difícil, mas para fazer da Universidade de Brasília um verdadeiro centro de cultura e desenvolvimento do ensino superior, não é tarefa fácil. (Publicado em 07/01/1962)