Ao mesmo tempo em que temos de nos manter esperançosos, também precisamos nos preparar para o pior e buscar não criar falsas expectativas. É difícil saber quanto tempo as suspensões durarão ou se serão frequentes até que a vacina seja disponibilizada. Se não há como implementar uma estratégia ótima, implementemos a melhor solução possível em cada contexto.
A curto prazo, devemos garantir que os alunos retenham conhecimentos e habilidades por meio de ações remotas. A médio prazo, teremos de avaliar o aprendizado de cada um e criar estratégias de reforço efetivas para os que necessitarem. A longo prazo, nossos sistemas educacionais deverão se recriar, com capacidades de contingenciamento, procedimentos e protocolos para possíveis novas crises, levando em consideração as possibilidades que as novas tecnologias oferecem.
Urge priorizar os que mais necessitam do nosso apoio. Esse público inclui crianças e jovens mais pobres, os que correm o risco de evasão, e os que vivem em lares e bairros violentos e estão sofrendo com o aumento de situações abusivas. Lembremos que, para os mais vulneráveis, a educação salva vidas. Ela não dá apenas segurança, proteção e alimentação, mas estimula a esperança de dias melhores. Quando a volta às aulas for possível para um pequeno grupo, os vulneráveis devem ser priorizados. As crianças e jovens com deficiência não podem ser esquecidos e novas estratégias de educação remota para esse grupo têm de ser implementadas.
As estratégias precisam incluir soluções high tech, low tech e no tech. Devemos apoiar gestores públicos, diretores, professores, familiares, inovadores, experts em comunicação e todos os que podem oferecer algum tipo de educação remota, incluindo o envio de material impresso, programas de rádio e TV, aulas digitais e outras ações inovadoras. Muitos não têm acesso a computadores ou à internet de qualidade (no Brasil, esse número é de cerca de um terço das famílias). Se o nosso foco for apenas em ferramentas digitais, certamente contribuiremos para a explosão das desigualdades educacionais em um país que já ocupa uma das piores posições no ranking dos mais desiguais.
Saúde física e saúde mental andam de mãos dadas. Estimular a solidariedade, a resiliência e a continuidade de relações entre educadores e alunos é fundamental. A provisão de alguma forma de experiência de aprendizagem pode ser fator de proteção contra ansiedade e depressão para crianças e jovens. Muitas escolas, públicas e privadas, estão exagerando nas expectativas do que professores e familiares conseguem fazer neste momento.
Os gestores de sistemas educacionais e os diretores de escolas precisam pensar na saúde de todos, já que os professores também estão fragilizados. Se os educadores se sentirem exaustos mentalmente, se se aproximarem de um colapso físico e mental, não poderão ajudar a si próprios ou aos alunos.
Por mais que a economia dos países sofra com a pandemia, os investimentos em educação devem ser mantidos e, quando possível, aumentados. As consequências desta crise serão sentidas a longuíssimo prazo, como nos comprovam as crises geradas pelo furacão Katrina em New Orleans, ou nos países que sofreram com o ebola. A consequente queda na aprendizagem poderá reverberar por mais de uma década se não investirmos em melhorias de infraestrutura, tecnologias, formação, metodologias e salários.
Esta não é uma crise qualquer e ela tem todo o potencial para ser catastrófica na educação de nossas crianças e jovens. Para construirmos um futuro mais saudável, próspero e seguro, precisamos garantir financiamento adequado, fazer uso inteligente de tecnologias disponíveis, priorizar os mais vulneráveis e proteger os nossos educadores e alunos. Com inteligência, integridade, competência e planejamento, podemos aprender com esta e com outras crises e promover o salto de qualidade na educação de que tanto necessitamos no Brasil.
*Rafael Parente é PhD em Educação e foi Secretário de Educação no GDF