Opinião

Artigo: Sentimentos de crianças

Uma campanha linda e comovente foi lançada, há alguns dias, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Crianças de todo o país são convidadas a registrar, por meio de desenhos, suas emoções em relação ao isolamento social. Se tem sido desafiador para adultos, o confinamento impacta ainda mais meninos e meninas, normalmente muito ativos. A entidade diz que a intenção é “dar voz às crianças em meio à pandemia, lembrando a importância de ouvi-las e de criar momentos em que elas possam expressar seus sentimentos”.

Algumas participações foram replicadas pelo Unicef em seu site. São todas muito tocantes. De rabiscos coloridos, feitos por crianças de menos idade, a desenhos mais elaborados, elas mostram a percepção que têm deste período em que não podem sair para brincar ou ir à escola nem rever amigos e parentes. São expressões de angústia, medo, aflição, desejos, gratidão e até alegria — por ficarem mais tempo com pais ou responsáveis.

Um dos registros é de uma menina aqui do DF. Andreza Matos, 12 anos, da Cidade Estrutural, desenhou-se com uma aparência triste (assim me pareceu) e fez outras ilustrações menores sobre o que pode ou não fazer nesta pandemia. “É muito ruim ficar em casa sem poder ir a lugar nenhum. É a mesma coisa de prender você na sua própria casa e como se fôssemos animais trancados”, escreveu.

Já Letícia Nakano Lee, 8, de São Paulo, fez um desenho dela “antes sem corona”, em que aparece feliz, e outro, “agora com corona”, em que está dentro de casa, vendo o sol pela janela e chorando. “Sem corona, eu podia brincar, passear, fazer um monte de coisa fora de casa. Agora, com corona, eu fico triste, porque não posso ver meus amigos, não posso passear. Mas, tudo bem, eu posso brincar com meus pais, posso jogar um jogo, ver um filme”, resignou-se.

De Manaus, Lucas Fontoura, 9, revelou sentimentos semelhantes aos de adultos nesta situação. “Eu tenho várias emoções. É muito confuso: num dia, estou triste, porque não posso sair de casa; noutro, estou feliz, porque aprendi uma coisa nova: estudar pelo computador. Depois, fico triste de novo, porque eu penso que pode morrer algum parente ou pessoa próxima de mim.” Miguel Pereira, 9, de Olinda (PE), fez um desenho dele com a frase “eu não gosto de quarentena”, outro de um rosto chorando e um terceiro do coronavírus de óculos de sol, feliz, com o polegar para cima.

O Unicef recomenda a pais ou responsáveis que abram esse espaço de diálogo com os filhos e organizem um ambiente acolhedor em que eles possam desenhar e falar sobre como se sentem. Os adultos que quiserem, têm a opção de usar o Stories do Instagram para postar as ilustrações com hashtag #sentimentosnopapel e marcar o perfil @unicefbrasil. A entidade dará visibilidade aos sentimentos de meninos e meninas neste momento tão crítico do planeta.