Em 8 de maio, os países aliados, que lutaram contra o Eixo, comemoraram 75 anos do final da guerra. Hitler e Eva Braun haviam se suicidado. Goebbels, a mulher e os seis filhos deram fim à própria vida ingerindo veneno. Na União Soviética, a data é comemorada no dia nove, porque Stalin exigiu uma segunda rendição especial para os comunistas. Morreram mais de 50 milhões de pessoas no maior conflito militar da história.
No Pacífico, a guerra terminou em 15 de agosto. Depois que Hiroxima e Nagasaki sofreram ataques atômicos. Antes, Tóquio foi destruída por brutal bombardeio norte-americano. Berlim terminou a guerra em escombros. Londres sofreu muito. Várias capitais, com exceção de Paris, foram devastadas. A economia de cada um desses países foi completamente destruída. Não sobrou pedra sobre pedra.
A Alemanha foi desmantelada. O país foi dividido. Os soviéticos carregaram fábricas inteiras. Também capturaram os melhores cientistas. Os norte-americanos levaram além de bens materiais, butim de guerra, transferiram para seu país os melhores cientistas alemães, nazistas ou não. O melhor exemplo é Werner von Braun, o criador da bomba V2, que destruiu parte de Londres, e se transformou no pai do programa espacial dos Estados Unidos.
A economia mundial foi devastada. As fábricas tinham sido transformadas pelo esforço de guerra. Tiveram que se readaptar à vida civil. As correntes de comércio foram destruídas. Os consumidores sumiram. Fortunas mudaram de mãos. Dinheiro desapareceu. A Itália passou fome. Ocorreu fortíssima retração no fornecimento de petróleo. As principais economias do mundo, as que mais sofreram na guerra, são hoje as maiores e mais importantes do mundo atual. Economia se recupera, mortos não ressuscitam.
Desde o começo da pandemia, o presidente Bolsonaro teve diante de si todas as alternativas possíveis. A experiência da China, o susto do norte da Itália, as boas lições de Cingapura e Coreia do Sul. Os desastres da Espanha e da França. E a arrogância de Trump. O mundo de hoje é um só. Integrado e interligado. Ele teve informação de boa qualidade. Cientistas brasileiros, estrangeiros e instituições multilaterais traçaram os cenários ou fizeram previsões. Ele escolheu ironizar o vírus, atacar governadores, prefeitos e tentar, de todas as maneiras, manter a economia funcionando. Ignorou o risco.
Isso aconteceu entre fevereiro e março, quando os primeiros infectados pelo vírus começaram a escalar na curva de afetados pela doença. Ele dobrou a aposta. Passou a desafiar a sociedade. Reuniu grupos de militantes com faixas contra o Congresso, o Supremo Tribunal Federal, pela volta dos governos militares até em favor de ressuscitar o Ato Institucional nº 5. Os integrantes da comitiva que viajou aos Estados Unidos retornaram contaminados pelo vírus. Ele fez o exame, mas se recusa a mostrar o resultado. Faz supor que foi infectado e se julga imune. Pode sair às ruas sem correr riscos.
A pandemia irá muito além dos 10 mil mortos. Os governadores e os prefeitos, tardiamente, organizaram isolamentos radicais em diversas cidades. São Paulo e Rio de Janeiro estão no caminho. São Luís do Maranhão, Belém e parte de Manaus já vivem sob severas restrições de movimentação de pessoas. O Brasil caminha para se tornar o segundo centro da epidemia do mundo. Atrás apenas do país do fanfarrão Donald Trump, que também errou muito. Os norte-americanos estão perto de ultrapassar 80 mil óbitos.
Se Bolsonaro tivesse tomado as medidas necessárias na hora própria, a transmissão da doença seria menor. Os exemplos de Argentina, Uruguai e Paraguai são inequívocos. Os três estão em situação estável. Com poucos infectados e menor número de óbitos. O distanciamento social funciona. Mandetta tinha razão. Tudo o que ele previu está acontecendo.
Depois de demitir dois ministros, decidiu, de maneira espetaculosa, invadir o território do Supremo Tribunal Federal para constranger seu presidente, Dias Toffoli. Encenação mambembe. Bolsonaro falou da necessidade de reabrir o comércio e reativar a economia. O presidente do STF reagiu dizendo que basta haver ação coordenada entre governo federal, estados e municípios. Dissertou sobre o óbvio. Neste governo nem o óbvio é percebido.
Neste momento, o presidente está pressionado por empresários, ministros do Supremo, seus correligionários e os militares. Cada um lhe indica um caminho. Mas, ao fundo, aparece, em destaque, a tentação autoritária. Bolsonaro conduziu o Brasil ao pior dos mundos.
* Jornalista
* Jornalista