Opinião

Opinião: Em um futuro distante

''É praticamente consenso entre imunologistas e epidemiologistas que apenas com o surgimento de uma vacina contra o novo coronavírus, e a consequente imunização da população, será possível uma eventual volta à normalidade, ao mundo que estávamos acostumados antes da pandemia''

A confirmação de que três jogadores do elenco principal do Flamengo deram positivo para o novo coronavírus trouxe mais um ingrediente para a discussão sobre a volta imediata dos clubes aos treinamentos e à disputa das competições individuais. Com exceção do Grêmio e do Internacional, todos os demais times da elite do futebol brasileiro estão com as atividades interrompidas, à espera de um aval dos governos estaduais e das autoridades sanitárias. Mas, nos bastidores do mundo da bola, há uma enorme pressão dos cartolas para a retomada das atividades.

É praticamente consenso entre imunologistas e epidemiologistas que apenas com o surgimento de uma vacina contra o novo coronavírus, e a consequente imunização da população, será possível uma eventual volta à normalidade, ao mundo que estávamos acostumados antes da pandemia. Até lá, mesmo com o fim da quarentena e a redução do isolamento social, vamos conviver com regras que alteram o nosso dia a dia. Será assim no ambiente de trabalho, nas escolas, no comércio e, claro, que no futebol.

Um dos preceitos básicos para a volta do futebol é que as partidas sejam disputadas com portões fechados. A liga alemã, a pioneira entre as principais, assim fará a partir do próximo dia 16. Sem a presença de público, com a testagem de atletas, árbitros e demais integrantes da comissão técnica, a bola voltará a rolar. Serão nove rodadas até o fim de junho. Não há a garantia de que ninguém pegará a covid-19, mas diversos cuidados sanitários foram tomados — e que deverão ser seguidos em muitos outros países.

Mas e no Brasil? Bem, a situação é diferente. Dos 128 clubes das quatro séries do futebol nacional, apenas o Flamengo fez testagem em massa. Ao todo, 293 pessoas do clube carioca, entre jogadores, familiares e funcionários, passaram pelo exame. E 38 casos deram positivo, ou 13% do total, e assintomáticos. A amostragem é pequena em comparação ao universo do mundo do futebol, mas dá uma pista do grau de circulação do vírus na sociedade. Dessa forma, como padronizar os 128 clubes e exigir deles um comportamento único para a retomada das atividades? Considero uma utopia.

Primeiro que a realidade financeira é diferente. Quem vai bancar todo o custo de exames e monitoramento constante de atletas e demais participantes do espetáculo? Outro ponto é que a pandemia está longe de acabar no país. Há regiões em que a situação está sob controle, mas, em outras, o lockdown já é uma realidade. Como tratar os diferentes de forma igual? Jogadores se posicionaram esta semana e ameaçam não entrar em campo, caso a cartolagem pule etapas e exija a volta das atividades a todo custo. Futebol no Brasil só num futuro distante. Concorda?