Sem dúvida nenhuma, a rede privada de saúde será aliada fundamental para superar a crise. Na verdade, já está sendo. São diversas ações espalhadas pelo país que contam com investimento privado para ampliação da capacidade de atendimento do SUS neste momento de incertezas.
Entretanto, é preciso que o ministério também seja solidário com as dificuldades que boa parte dos hospitais particulares está enfrentando com o impacto das consequências da pandemia. Principalmente os estabelecimentos de pequeno e médio porte, que respondem por mais de 60% dos 4 mil hospitais particulares associados à FBH e registraram queda vertiginosa das receitas. O medo das pessoas em se contaminar e a recomendação do próprio Ministério da Saúde pelo adiamento de cirurgias e procedimentos eletivos afastaram os pacientes e derrubaram em até 80% a receita de muitos hospitais.
O cenário traz consequências que vão além da sustentabilidade dos hospitais. São milhares de pacientes que interromperam o acompanhamento médico de rotina, bem como tratamento de doenças crônicas. As outras doenças não deixaram de existir. No caso do câncer, por exemplo, o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso da terapia a ser implementada. E a verdade é que muitos hospitais já encontram dificuldades de manter em dia a folha de pagamento, que chega a representar 50% dos gastos de um hospital.
Por isso, a FBH vem pleiteando diariamente uma linha de crédito no BNDES para permitir que essas unidades tenham o capital de giro necessário para atravessar a crise. Sem isso, inevitavelmente muitas fecharão as portas nas próximas semanas. E o reflexo irá além da saúde suplementar, pois os hospitais privados respondem por 62% dos atendimentos do SUS. Principalmente no interior do país são os estabelecimentos particulares que são referência e muitas vezes a única opção de atendimento. Em um momento em que o país precisa de leitos à disposição, o fechamento de hospitais reduziria ainda mais a capacidade de absorver a crescente demanda. Além disso, reverbera no índice de desemprego, justamente em um momento em que o setor empresarial se esforça para manter as vagas de trabalho.
A rede privada hospitalar já vem enfrentando dificuldade nos últimos anos. Somente em 2018 e 2019, foram 539 estabelecimentos que encerraram as atividades. Reflexo dos altos custos do setor, que lida também com elevada carga tributária, que, sem dúvida nenhuma, é uma das mais altas da economia brasileira, havendo inclusive bitributação incidindo sobre alguns impostos. A desoneração impactaria diretamente no aumento de recursos para investimentos em infraestrutura, tecnologia, qualificação e geração de empregos.
Desde o início da pandemia, a federação se prontificou a ajudar o ministério no que fosse preciso e mantém o compromisso com o novo ministro, desejando que ele tenha o equilíbrio necessário para tomar as medidas certas e a sabedoria para dialogar com o setor, pois o sistema de saúde brasileiro será ainda mais forte com o crescimento tanto da rede pública quanto da iniciativa privada.
* Presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH)