“Informações criveis e confiáveis são uma tábua de salvação para todos”, diz a comissária e lamenta que alguns líderes (chega a citar o presidente dos EUA, Donald Trump) “tenham alimentado um contexto hostil” contra jornalistas, pondo-lhes a segurança em risco e lhes degradando as condições de trabalho.
A postura de Michelle Bachelet é corajosa. E didática, também. O entendimento que ela tem do papel do jornalismo, nessa que é a maior crise humanitária desde a quebra da bolsa de 1929, revela a aura da estadista que percebe a essencialidade, a razão necessária e a liberdade que tornam a imprensa agente do processo civilizatório. É na crise que se conhecem os construtores do futuro.
No balanço político internacional, a doutora em química quântica e chanceler Ângela Merkel agradeceu e elogiou a contribuição da imprensa alemã, até agora um caso único de gestão vitoriosa tanto no país quanto na União Europeia. Vale lembrar que, antes da chegada do vírus, era considerada um pato manco, pois aguardava o fim de mandato tendo a aposentadoria como prêmio merecido.
Em contrapartida, Trump e Bolsonaro, já derrotados pelo vírus, fizeram exatamente o contrário. Primeiro desdenharam da ciência, desqualificando o ativo destruidor da pandemia, e depois foram virulentos com a imprensa, tratando-a como histérica e terrorista. Bolsonaro ainda soltou um “E daí?” que ficará para a história.
Guga Chacra, correspondente da Rede Globo em Nova York, em entrevista ao portal Imprensa, desmente Trump e elogia a cobertura profissional da pandemia nos EUA. Aqui no Brasil, Flavia Lima, mediawatcher e ombudsman mandatária na Folha de S. Paulo, certifica o desempenho de seu jornal e ousa até elogiar igualmente os concorrentes. A pandemia obrigou a imprensa brasileira a dar tudo de si, com isolamento social e as dificuldades operacionais ao exercício da profissão.
O filósofo Roberto Romano, em entrevista virtual para o Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia, discorre entre ética e moral que permeiam o exercício da liberdade e do jornalismo. Enfim, profetiza o futuro da profissão “mesmo que não existam mais redações, no sentido físico da palavra, terá sempre essa classe de pessoas que se dedicam a dar sentido ao caótico das informações que chegam a todo momento para todos nós. O religioso tem a sacralidade; o político, também, e o jornalista tem a função, que me parece altamente digna, de traduzir o diverso”.
Por isso, o trabalho dos jornalistas, neste 3 de maio de 2020, tem certificação garantida e um ponto no pós-pandemia. É o reconhecimento prévio aventado por Michelle Bachelet da essencialidade e necessidade do fazer jornalístico como bem mundial, que rompe territórios e deve ser preservado como bem da humanidade.
Os jornalistas têm, hoje, motivos para celebrar e o devem fazer com orgulho. A data escolhida pela ONU é para lembrar a todos que a imprensa só é imprensa quando livre. Em tempos de pandemia, a celebração vira bandeira humanitária, hino à vida. Vale até um panelaço tendo como trilha sonora a Bella, ciao.
*Editor da revista e do portal Imprensa
*Editor da revista e do portal Imprensa