Opinião

Sr. Redator



Coronavírus

O governo do Distrito Federal prevê, para a próxima semana, a abertura do comércio e de outros segmentos produtivos. Comércio é um setor que, invariavelmente, atrai grande fluxo de pessoas, o que seria a abertura de mais uma porta para a contaminação pelo novo coronavírus. A situação no Distrito Federal não é nem um pouco tranquila. Como na maioria das unidades da Federação, no DF cresce, dia após dia, o número de infectados e, também, de óbitos. Além disso, o DF tem um dos mais precários sistemas de transporte público. A abertura do comércio implicará aumento da demanda de transporte. Os ônibus serão desinfectados a cada leva de passageiros? Terão recipientes com álcool em gel para os usuários que ingressarem nos veículos? Haverá fiscais suficientes para evitar aglomerações, muito comuns nos pontos de ônibus? Quem garantirá que todos terão acesso às máscaras de proteção? Haverá pias com sabão e água nas paradas? São detalhes que precisam ser avaliados antes de uma tomada de decisão por pressão de empresários que não estão nem aí para a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, preocupados apenas com a perda de faturamento. Será que o relaxamento da quarentena está ocorrendo em boa hora? Ou será que o governador Ibaneis decidiu engrossar as fileiras dos seguidores do presidente Jair Bolsonaro, depois de ter se notabilizado por ter sido o primeiro a tomar providências em favor do distanciamento social? As projeções sobre os danos da epidemia no Distrio Federal são muito negativas. O número de mortos pode chegar a 5 mil ou mais. Não seria mais prudente deixar o açodamento de lado e pensar com mais cautela antes de congestionar o sistema de sepultamento na capital federal?

Lívia de Paula Martins,
Asa Norte



» Vivemos na quadra 305 Sul do Plano Piloto e estamos preocupados com a possível tomada da flexibilização e da linearização como parte da continuação do processo de controle do coronavírus e da Covid-19. Nessa quadra, temos números elevados de idosos, e o movimento de circulação, principalmente de pessoas e veículos, é significativo em função da existência de: cartório (1); supermercados (2); escolas públicas (2); escola privada (1); centro treinamento dos terceirizados da Caixa Econômica (1); farmácia (1); Sesc (1); restaurantes (5); comércio (vários); posto de gasolina (1); igrejas (2); parquinho (1), além da permanência de barraqueiros, churrasqueiros, vendedores ambulantes, entre outros. Com a abertura, e dependendo da flexibilização/linearização (esperamos que seja gradual), pode haver o retorno de toda movimentação de veículos e circulação de pessoas nesses ambientes. Os moradores, embora praticantes do isolamento, ficarão vulneráveis e sempre na torcida diária da chegada do período noturno e do domingo para terem estacionamentos vagos e sentirem-se mais acomodados e protegidos do coronavírus e da doença Covid-19.

Antonio Xavier de Campos
Asa Sul



E daí?

Mais de 5 mil brasileiros mortos pelo coronavírus. “E daí?” Ou seja, isso pouco importa. Uma resposta infeliz, que revela a indiferença do presidente pela vida dos cidadãos. E daí? As pessoas morrem mesmo. Morrem sim, mas a tragédia não pode resultar da indiferença, do desprezo e do descaso das autoridades de Estado, que têm a obrigação constitucional de proteger a população, garantir saúde e bem-estar a todos. Os cadáveres e a dor de quem perdeu o ente querido devem ser empilhados no colo do presidente, como ele mesmo autorizou: “Podem colocar no meu colo”. “O Brasil não pode parar”, afirmou Bolsonaro, colocando saúde e economia em polos opostos e indo às ruas para estimular a população a desobedecer as orientações da Organização Mundial da Saúde e as preconizadas pelo então ministro Luiz Henrique Mandetta, que previu o colapso nos serviços médico-hospitalares sem o isolamento. O presidente desafiou a ciência e a medicina, apesar dos exemplos vindos do exterior, onde o isolamento foi negligenciado e o número de mortes explodiu nos Estados Unidos, na Itália e na Espanha. A previsão do ex-ministro se confirma. O novo ministro, Nelson Teich, retira do discurso palavras como isolamento ou distanciamento social, apesar do avanço do número de infectados e de mortes. Teich se coloca como observador do horror ao dizer: “Vamos continuar acompanhando a evolução” — do número de óbitos? Provavelmente, sim. E daí?

Gilberto Borba,
Sudoeste