Outra facada, não!
Uma corporação, como o próprio nome diz, reúne indivíduos que possuem, em comum, os mesmos ideais profissionais e, de certa forma, acabam compondo um só corpo agindo em conjunto organicamente, de tal forma que o pleno funcionamento do todo depende, de forma vital, do funcionamento de cada uma das partes, como num relógio suíço, no qual toda engrenagem possui função e importância específicas. O mal funcionamento de qualquer uma de suas partes, compromete o todo de modo irreparável.
As Forças Armadas são, nesse sentido, um exemplo claro de uma corporação em que todos, do soldado ao general, possuem, cada um, uma importância e uma função, sem a qual o organismo como um todo não pode existir. Sobre esse ponto, qualquer falha ou deslize de um dos seus membros põe a perder o funcionamento do conjunto, comprometendo seu desempenho ideal.
Não estranha que, em suas fileiras, não sejam raros episódios em que membros dessa corporação são desligados do organismo a bem do conjunto, o que, em si é uma medida necessária. Da mesma forma que uma parte gangrenada do corpo humano é amputada para a sobrevivência do todo, o afastamento de indivíduos que não coadunam com as diretrizes de uma corporação constitui-se numa ação profilática e vital ao organismo. Até aí não há dúvidas.
Colocada dessa forma, e visto em outro contexto, a situação trazida até aqui pelo presidente Jair Bolsonaro, pela insistência com que mantém um ambiente de permanente crise institucional, talvez até como uma espécie de estratégia política às avessas, tem, com relação às Forças Armadas, um efeito potente, diferente e também nefasto a essa instituição permanente. Não apenas pelo fato de o atual presidente ser um ex-militar de carreira, colocado à margem da corporação por circunstâncias distantes aos ideais de Caxias ou ao regimento do Exército, de onde provém.
O fato de um ex-militar chamar para compor seu gabinete de governo membros das Forças Armadas criou, necessariamente, entre ele e esses integrantes um elo e uma associação, que, como um nó, fica difícil de separar. Assim, o destino de um é, em larga medida, o destino do conjunto, nesse caso específico, as Forças Armadas. Bolsonaro e os militares, por livre vontade, possuem nos episódios que vão se desenrolando nesse governo um destino e um futuro comum. Não há como dissociar o político que chegou à presidência, por obra e graça das circunstâncias de uma encruzilhada fatídica, do restante do seu gabinete, composto, em sua parte principal, pelo pessoal do alto escalão das Forças Armadas.
Uma possível descida do atual governo ao fundo do poço numa crise sem precedentes, fato que muitos apontam como uma grande possibilidade — mas, nós, como brasileiros, torcemos para que isso não aconteça—, arrastará, irreversivelmente consigo toda a corporação, numa espécie de abraço de afogados transmitindo à zelosa corporação o vírus da inépcia e lançando de volta seu prestígio atual aos tempos da ditadura, numa fase de nossa história, que, a duras penas, tem sido deixada para trás, como página virada.
A frase que foi pronunciada
“A vida/Consumida/Em cuidados/Escusados,/ E sujeita a desconcertos da ventura,/Não é vida vital,/mas morte pura.”
Camões, poeta português
Indo bem
» Médicos têm elogiado as iniciativas do governador Ibaneis, que tem tomado precauções contra o coronavírus sempre colocando a vida da cidade em um lugar importante. A ideia, agora, é aumentar os exames por drive-thru para mapear a cidade com a indicação de novas providências.
Hábito
» Mudar a cultura de um povo é tarefa hercúlea. Para uma população que até pouco tempo espirrava em direção às pessoas, sem a menor consideração, já é possível ver adolescentes que vendem pipoca no sinal, espirrar na dobra do braço. O uso de máscaras também está aumentando visivelmente.
Ideia
» Por falar em máscaras, o repúdio ao material médico chinês é grande. Inúmeras mensagens pelo WhatsApp pregam que ninguém use material chinês no rosto. Se há possibilidade de costurar sua máscara nos moldes de correta higiene, a ojeriza faz sentido. Seria bonito o governo brasileiro conclamar as costureiras de escolas de samba para fazer máscaras para os brasileiros. Veja orientações sobre o assunto no Blog do Ari Cunha.
Imprensa
» Criada para levar alimentos saudáveis e de qualidade às famílias e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, o programa Cesta Verde do Governo do Distrito Federal também contribui para o desenvolvimento e a geração de renda entre milhares de produtores rurais no DF. Veja detalhes do assunto no Blog do Ari Cunha.
História de Brasília
O dono de uma padaria me mostrou uma nota da “Indústria Mineira de Moagem S.A.” de uma partida de farinha para Brasília. Cobrava por saco a importância de Cr$ 1.877,00. (Publicado em 05/01/1962)