As ações de combate à pandemia de coronavírus estão em uma nova etapa: o avanço do afrouxamento do isolamento social. Embora o país ainda não tenha atingido o pico de casos de Covid-19, há um aumento da flexibilidade da quarentena no Distrito Federal e em Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Paraíba, Sergipe e Tocantins, que deve ganhar mais força na semana que vem, quando o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, ficou de apresentar um plano de retorno das atividades.
Ao mesmo tempo, percebemos o agravamento da crise em outras regiões do país. Enterros em massa, como é o caso de Manaus; hospitais bem perto do colapso de atendimento, como em Fortaleza e Recife; e falta de respiradores, como o que tem atingido a rede pública de saúde do Rio, em que médicos precisam fazer revezamento de pacientes, deixam a certeza de que não há uma fórmula mágica nacional para o combate ao avanço da pandemia.
Pensar numa diretriz única para o fim do isolamento é impossível, ainda mais depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu que o governo federal não pode interferir nas regras de quarentena ou restrição de transporte decretadas por prefeitos ou governadores. O discurso unificado do governo federal, agora que o novo ministro da Saúde está alinhado com o do presidente Jair Bolsonaro, pode, no entanto, influenciar ainda mais no comportamento da população, que tem relaxado cada vez mais no isolamento social, que está na faixa de 55% no DF — o recomendado por autoridades sanitárias é de 70%.
Veja o caso de algumas cidades ao redor da capital federal, por exemplo. É cada vez maior a presença de pessoas nas ruas, principalmente em Ceilândia, Santa Maria, Recanto das Emas e Samambaia. Com a maioria dos bares fechados — pois há comerciantes que seguem desrespeitando o decreto do governador Ibaneis Rocha que proíbe a abertura —, distribuidoras de bebidas nestas cidades se tornaram ponto de encontro da população, como mostram vídeos viralizados nos últimos dias nas redes sociais. Jovens dançando ao lado de carros de som contrastam com quem está no prédio ao lado cumprindo a quarentena.
Se tudo correr como o previsto, no próximo dia 4, o comércio voltará a funcionar na capital federal. Algumas atividades que geram aglomeração, como casa noturnas, cinemas, teatros e bares com apresentações musicais, devem permanecer fechadas ainda por um bom tempo. O fim do isolamento social ainda provoca incerteza em muita gente. Estamos prontos? Há chance de uma segunda onda do coronavírus? Acabou o risco de colapso no setor de saúde da capital federal? São perguntas que muitos de nós nos fazemos. E a resposta será dada. Pela realidade.