Opinião

Opinião: Quem vive e quem morre

''As pressões econômica e política para a reabertura dos estabelecimentos e, até de escolas, é imensa. Mas será que os porta-vozes dessas reivindicações e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e sua equipe estão prontos para ver o enterro de centenas de brasilienses em covas coletivas, como tem ocorrido em Manaus e em tantos outros lugares mundo afora?''

A curva de infectados pela Covid-19 no Distrito Federal apresentou, pela primeira vez, sinais de achatamento no registro de contaminados e ficamos quatro dias sem contabilizar mortos. No cenário dramático em que vivemos, não deixa de ser uma boa notícia. Porém, ela não é suficiente para garantir o afrouxamento das restrições de funcionamento do comércio, muito menos, do fim do isolamento social.

As pressões econômica e política para a reabertura dos estabelecimentos e, até de escolas, é imensa. Mas será que os porta-vozes dessas reivindicações e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e sua equipe estão prontos para ver o enterro de centenas de brasilienses em covas coletivas, como tem ocorrido em Manaus e em tantos outros lugares mundo afora?

Os que reivindicam o relaxamento das medidas adotadas para conter o coronavírus estão prontos para dizer aos médicos: “podem deixar minha mãe idosa morrer, ela já viveu muito”; ou, “meu pai tem comorbidades, deixe-o morrer e use o respirador para salvar a vida de uma pessoa mais jovem e saudável”? É justo impor aos médicos, que estão na linha de frente nessa guerra, a decisão sobre quem viverá e quem morrerá vítima da Covid-19?

Sim, é verdade que, no DF, os números e a evolução dos casos está muito melhor do que em outras unidades da Federação. Mas não percamos de vista que isso se deve ao fato de o governador Ibaneis Rocha (MDB) ter sido pioneiro ao suspender as aulas, fechar o comércio e impor o isolamento social. Não nos esqueçamos que, tanto no DF quanto no resto do país, a subnotificação máscara o diagnóstico de infectados, dificultando e até dando argumentos para quem dissemina tratar-se apenas de uma “gripezinha”. Precisamos ter em mente que, em alguns casos, a pessoa é infectada e não apresenta sintomas. Daí a importância do isolamento social.

Com o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS), faltam leitos, equipamentos e profissionais para atender aos doentes em tempos normais. O que vai acontecer se o número de casos explodir no DF? Antes de pedir a volta da normalidade, façamos o seguinte exercício: você está em casa e há uma troca de tiros no meio da rua. Você atravessaria a via para viver sua vida normalmente ou ficaria abrigado até o cessar fogo? O vírus está lá fora. Se você pudesse vê-lo em suspensão no ar, sairia de casa ou reabriria seu comércio?