A omissão, fruto da indiferença, ignorância ou irresponsabilidade, é o tema de um dos mais conhecidos textos de Bertold Brecht. O dramaturgo alemão escreveu um poema que apresenta uma série de violências cometidas contra outros. E, por serem outros, estavam distantes da reação dos que se consideravam protegidos.
Resultado: negros, operários, miseráveis, desempregados se sucediam na fila das vítimas da tirania. Mas, abandonados à própria sorte, não mereceram compaixão nem resposta. Até que ocorreu o mesmo com o narrador. Quando chegou a vez dele, ninguém se importou.
O tratamento da pandemia no Brasil segue enredo semelhante. Aconteceu na China. Mas a China fica do outro lado do mundo. Não tem nada a ver com o Brasil. Aconteceu na Europa. Mas o Velho Continente está aquém-Atlântico. Não tem nada a ver com o Brasil.
Aconteceu em Nova York e Guayaquil. Mas as duas cidades estão distantes das fronteiras do país. Não têm nada a ver com o Brasil. Aconteceu em Manaus. A capital do Amazonas fica em território nacional. Tem tudo a ver com o Brasil.
O horror decorrente do colapso do sistema de saúde manauara torna concreto o alerta que vem sendo acionado desde o começo do ano, quando se agravou a situação de Wuhan, terra natal do coronavírus. A Organização Mundial da Saúde, cientistas e profissionais da área insistem na necessidade de controlar a propagação do vírus.
Sem freios, ele se espalha exponencial e democraticamente. Nenhum país, como mostra a experiência internacional, tem capacidade de responder à sanha avassaladora do Sars-Cov-2. Manaus protagoniza a primeira falência do sistema no Brasil.
Saiba Mais
Sem vacina e sem antivirótico eficaz, a única arma de que se dispõe para administrar a pandemia é o isolamento social, cujo custo é alto, mas evita mortes por atacado. Governadores se mobilizam para a volta da rotina normal. É importante que o façam com responsabilidade e gradualmente. Decisões precipitadas ou movidas por interesses alheios ao bem comum serão contabilizadas em número de vítimas.