Opinião

Opinião: Sempre os mesmos

''Outros bancos, à sua moda, vêm tentando facilitar a vida para o correntista, estendendo prazos, suspendendo parcelas e outras formas de aliviar o bolso do cidadão, mas sem abrir mão de receber lá na frente o que abona agora''

O Itaú-Unibanco anunciou a doação de R$ 1 bilhão para o programa Todos pela Saúde, que atenderá, neste momento, sobretudo aos que serão afetados pela Covid-19. Ainda que esse dinheiro tenha peso relativo no balanço anual da instituição, a maior do setor no Brasil, merece ser reconhecido como uma ajuda importante.

Outros bancos, à sua moda, vêm tentando facilitar a vida para o correntista, estendendo prazos, suspendendo parcelas e outras formas de aliviar o bolso do cidadão, mas sem abrir mão de receber lá na frente o que abona agora. Partes do empresariado também se mostram comprometidas, com ações práticas –– que passam pelo caixa –– para minorar o cenário de devastação que se prevê. Para os trabalhadores da iniciativa privada, o governo propôs um programa de redução salarial a fim de manter empregos por 90 dias.

Poderia dar uma lista de atividades e ramos da economia que aceitaram (ainda que à força) contribuir de algum jeito para que o país não seja tragado pelo tsunami. Porém, não se escutou palavra por parte de setores cartoriais do funcionalismo. Aliás, escutou-se, sim: choramingos, ameaças, defesas antecipadas e propostas pouco factíveis. Para variar o burocrata não aceita sacrifício algum.

Quando o governo federal aventou a possibilidade de manter os salários do funcionário público congelado por 24 meses, começou a chiadeira. Por fraqueza, recuou para 20 meses a pretensão para deixar a turma sem aumento. Nesse ritmo, vê-se claramente que não haverá congelamento algum.

Passou da hora de não mais levar a sério os arroubos desse pessoal, incapaz de se igualar aos demais cidadãos brasileiros. Estruturados em associações e sindicatos fortes, com poder de fogo junto ao parlamento e muita influência política, algumas categorias não têm o menor prurido em defender abertamente ganhos em momentos nos quais o país marcha para trás.

Da mesma forma, acho que passou da hora de se fazer uma pesquisa sobre o que pensa o brasileiro do seu funcionalismo. Pelo tanto de reclamação que ouço –– e creio que seja regra ––, provavelmente a imagem que emergirá desse resultado seja fundamental para não se temer mais as constantes ameaças que fazem.

E aqueles que acharem que estou mirando apenas no Poder Executivo, deixo claro que não. As corporações do Judiciário, do Legislativo e do Ministério Público estão em conveniente silêncio, pois, quando se manifestam, é para colocar o pé na porta. E também ressalto que não é apenas no âmbito federal que deve haver providências para chamar o funcionalismo à realidade: no municipal, no estadual e no distrital, a turma deve ser incluída na corrente de generosidade para além do próprio bolso. Quem tem estabilidade e dinheiro pingando na conta, com ou sem crise, todo final de mês, tem por obrigação se apresentar para integrar a infantaria para a guerra que se aproxima.

Antes que circulem manifestos e cartas abertas de corporações contrárias às cobranças da cota de sacrifício dos servidores –– que habitualmente começam com a cínica expressão “a quem interessa” (respondo: à sociedade inteira) ––, faço a recomendação: assistam a uma reportagem, exibida em 15 de abril, na qual um mestre de obras faminto aguardava na fila de uma agência da Receita Federal, no Rio, pela possibilidade de regularizar o CPF para ganhar o auxílio de R$ 600 do governo. E vejam por que homens como esse não podem ser punidos enquanto outros são permanentemente abonados.