Opinião

Visão do Correio: Três atos

''Crises como a provocada pela pandemia atual abrem, diante de representantes eleitos pelo povo, as cortinas de um espetáculo que se divide em três atos: preparação, confronto e resolução''

Em tempos de pandemia, o jogo político deve ficar em segundo plano. Pressionados pelo avanço do novo coronavírus, gestores e parlamentares devem priorizar suas ações em torno de movimentos efetivamente capazes de salvar vidas a curto prazo. Evitar o colapso do sistema de saúde deve ser objetivo comum de quantas forem as correntes ideológicas da sociedade. Só assim será possível poupar profissionais da saúde, que estão no front dessa grande batalha, de escolher, em breve, a quem será dada a chance de recuperação.

A política, no entanto, faz parte do esqueleto das relações sociais e está inevitavelmente presente na forma com que nos organizamos, na maneira com que nos movemos nessa “máquina” e, sobretudo, nos representantes que escolhemos para tomar a frente nas decisões que acreditamos ser importantes. Eleitos, esses indivíduos carregam com eles a voz de todos os votos neles depositados, transitam pela República como se carregassem uma coleção de procurações que lhes autorizam a avaliar, planejar e agir na tomada de decisões coletivas. A voz do político deve ser o coro daqueles que o elegeram e representar, assim, seu interesse comum.

Crises como a provocada pela pandemia atual abrem, diante de representantes eleitos pelo povo, as cortinas de um espetáculo que se divide em três atos: preparação, confronto e resolução. O papel que ocupam é impreterível, o que significa que o protagonismo lhe será ofertado nos três atos. Como num enredo dramático, no entanto, o desenrolar da sequência dependerá das ações do personagem, que, ao se posicionar desta ou daquela forma, desamarra o fio da história que segue naquele novelo.

A crise atual se apresenta em capítulos: “Prevenção e preparação”, “Drama real” e “Reconstrução possível”. Gestores e parlamentares bem sabem que a maneira com que exercem seu protagonismo no primeiro ato irá, inexoravelmente, determinar o julgamento que a plateia fará dele no desenrolar da trama e, sobretudo, no volume de aplausos recebidos no encerramento da história.

Gestores que tomam a frente em momentos graves como a pandemia do novo coronavírus assumem o papel que lhes foi concedido e a responsabilidade por decisões que irão salvar ou condenar vidas. A outra opção possível seria a omissão, impensável para homens e mulheres que carregam com eles a voz de tantos outros em momento tão importante.

Como em um filme ou peça teatral, os acontecimentos estão sempre encadeados e é importante saber que o último ato, o da “Reconstrução possível”, será também o momento de aferir a reputação dos representantes. Para isso, nenhum valor será mais determinante que seu comportamento nas partes anteriores da narrativa. Ao fim do enredo, só sagrar-se-á herói aquele que houver, efetivamente, combatido o mal desde o início e participado, com louvor, da vitória sobre o inimigo.