Opinião

Artigo: Três meses, e aí?

Três meses são o período ''mágico'' de aplicação das medidas emergenciais iniciais. Mas sabemos que junho/julho é logo ali e a crise dá sinais que será longa e ampla

O pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 teve início na quinta-feira (9/4). Os primeiros beneficiários da etapa inicial são correntistas da Caixa Econômica e do Banco do Brasil. Sem dúvida, é um dinheiro muito bem-vindo aos informais nesta grave crise financeira desencadeada pela pandemia de Covid-19. Serão três repasses mensais para minimizar os impactos da quarentena imposta para conter o novo coronavírus.

Por três meses, também é possível dar uma pausa no financiamento habitacional da Caixa, no caso de pessoas físicas. Ou, então, antecipar a liberação dos recursos correspondentes a um trimestre, limitado a 10% do total financiado, para obras em andamento e sem atrasos no cronograma, para empresas. Três meses também são o prazo máximo previsto para a aplicação da MP emergencial dos salários, que prevê a redução da jornada em 25%, 50% ou 70%, percentual que seria aplicado na mesma proporção à diminuição da remuneração do funcionário.

Ou seja, três meses são o período “mágico” de aplicação das medidas emergenciais iniciais. Mas sabemos que junho/julho é logo ali e a crise dá sinais que será longa e ampla. Agências de classificação de risco, como a norte-americana Standard & Poor’s (S&P) que reduziu a perspectiva da avaliação do rating soberano do Brasil de “positiva” para “estável”, já consideram como certa uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. A S&P é até otimista e prevê redução de 0,7%, mas há analistas apostando em retração mais forte, acima de 6%. Sinal de que mais medidas de estímulo à economia precisarão ser apresentadas nos próximos meses.

Um dos pontos-chave é que a pandemia do novo coronavírus não tem data para terminar. Nem qual será o tempo de recuperação pós-Covid-19. Mas é praticamente consenso de que deixará um rastro de destruição em diversos setores, na circulação e no consumo de bens e serviços. Muitas famílias e negócios estarão em situação de insuficiência financeira, perto da insolvência. E situações de socorro ainda se mostrarão necessárias, a depender do tempo que o isolamento social durar.

Temos ciência que ficar em casa é mais do que necessário. É fundamental para a preservação de vidas. Mas o cenário precisa começar a ser traçado para o segundo semestre. Três meses de auxílio, de suspensão nos financiamentos, e aí? Parece pouco tempo, não?