Opinião

Grata surpresa

Vez ou outra deparo-me com produções surpreendentes e impactantes no recheado catálogo do mundo dos streamings. São atrações que, muitas vezes, não têm grande alarde midiático e acabam fazendo sucesso de forma espontânea. Esse é o caso da minissérie A vida e a história de Madam C.J. Walker, que estreou mês passado na Netflix.

Talvez, a trama tenha tido um trabalho de divulgação forte nos Estados Unidos, já que a personagem principal da história é norte-americana e é considerada um símbolo tanto para as mulheres negras, quanto para os homens no país. É Sarah Breedlove, que mais tarde, ficou conhecida como Madam C.J. Walker, a primeira mulher negra a se tornar milionária graças ao esforço próprio ao criar uma linha de sucesso de cosméticos para os cabelos.

Confesso que me interessei pela produção assim que recebi um e-mail do serviço de streaming com a lista das estreias do mês, como sempre costumo receber. E isso teve a ver com o fato de Octavia Spencer dar vida à protagonista. Sou muito fã da atriz que há alguns anos ganhou o Oscar por Histórias cruzadas e depois foi lembrada na mesma premiação com indicações pelas atuações em Estrelas além do tempo e A forma da água — ótimos filmes, inclusive.

Aproveitei o tempo livre devido ao isolamento social e logo maratonei. A vida e a história de Madam C.J. Walker, minissérie com quatro episódios. E foram precisos apenas alguns segundos para que eu soubesse que estava diante de uma grata surpresa. Logo no início, a produção toca num assunto importantíssimo na vida das mulheres: o poder do cabelo.

Pode parecer algo fútil, mas a relação, principalmente das mulheres, com o cabelo é mais do que só uma questão estética. Tem a ver com autoestima e representatividade. A trajetória de Madam C.J. Walker perpassa o tempo inteiro pelas madeixas. É a queda dos fios que a leva a descobrir um produto que dá mais do que um belo cabelo, dá a ela força para lutar pelos sonhos.

Também é por conta do cabelo que Sarah se torna uma grande empreendedora. Mulher à frente de seu tempo, ela viu ali a oportunidade de ter o próprio negócio. O que poderia ser só mais uma história de sucesso no empreendedorismo, caso se passasse nos dias de hoje. A questão é que tudo isso aconteceu na década de 1900, aproximadamente 50 anos depois da abolição da escravatura nos Estados Unidos. E, num período, em que a mulher era apenas uma pessoa do lar.

A minissérie pode ser dura, mas a escolha de contar essa história inspiradora é extremamente necessária. Porque, mesmo em meio a barreiras, Madam C.J. Walker venceu. E, em tempos de tanta desesperança, não custa nada acalentar o coração com uma mensagem importante de acreditar nos sonhos.