Opinião

Pandemia e indústria

Em que pese as inúmeras iniciativas de empresas para ajudar o poder público no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, em todas as regiões do país, mais pode ser feito pelo nosso parque industrial nessa guerra contra o inimigo invisível. Há vários setores operando com sua capacidade reduzida, simplesmente por causa da falta de demanda provocada pelo isolamento social — as pessoas não circulam e, consequentemente, não consomem. A indústria brasileira tem expertise e capacidade para poder ajudar o país em momento tão crucial.

O governo criou o gabinete de crise, interdisciplinar, justamente para coordenar ações com maior eficácia no combate à Covid-19. Assim, pode recorrer à indústria nacional para aumentar a fabricação de produtos reclamados pelos profissionais da saúde. O gabinete de crise deveria assumir, imediatamente, a organização da fabricação desses equipamentos, identificar os principais gargalos nos estados e promover a distribuição do material de acordo com as necessidades. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump recorreu a uma lei do tempo da Guerra da Coreia para forçar as fábricas de automóveis a produzirem respiradores.

Esforços podem ser intensificados pela indústria, por exemplo, para o fornecimento de materiais escassos no mercado e que são de extrema importância para que a área de saúde possa cumprir seu papel da melhor maneira possível. Principalmente, máscaras e respiradores, com 90% de sua produção concentrada na China e que são disputados avidamente por inúmeros países por causa do avanço da pandemia em todo o planeta.

Entidades de classe já se mobilizam para fornecer os materiais necessários, mas uma ação coordenada em nível federal surtiria efeitos concretos mais rapidamente, sobretudo porque a previsão é de que o aumento vertiginoso da demanda desses produtos nas próximas duas a três semanas, quando o contágio do novo coronavírus deve atingir seu pico. Incontáveis são as empresas (grandes, médias e pequenas) que se prontificarem em colaborar. A lista é grande.

O caso mais emblemático foi o do pequeno empresário de Juiz de Fora (Minas Gerais), Marcelo Andrade Soares. Com seu Galpão do Laser praticamente parado devido à suspensão dos contratos com grandes empresas de todo o Brasil, Marcelo colocou seu maquinário para produzir máscaras de proteção individual usadas por médicos e enfermeiros. Sem recursos suficientes, gravou um vídeo em que pedia colaboração para poder ampliar a produção. O vídeo viralizou nas redes sociais, doações começaram a surgir e Marcelo estipulou como meta produzir 4 mil máscaras por dia.

Exemplos como o do pequeno empreendedor do interior mineiro se espalham por todo o país. A sociedade está disposta a colaborar dentro de suas possibilidades. Espera-se que o governo possa articular uma mobilização coordenada da indústria nacional para que sejam atendidas as necessidades dos que se arriscam no combate à pandemia. A hora é esta.