Opinião

Artigo: Esforço de guerra em tempos de paz

''Mais do que preservar a economia, a principal missão do governo e da sociedade civil é salvar vidas''

Tempos atrás, dizia-se que, quando os Estados Unidos espirravam, o mundo ficava gripado e o Brasil pegava pneumonia. A economia brasileira ficou mais sólida a partir do Plano Real e entramos para o time dos que ficavam apenas gripados.

Em 2003, quando surgiu na China a epidemia do coronavírus Sars, o PIB chinês representava 4% da economia mundial. Agora, representa 16%. Se a Covid-19 tivesse provocado unicamente uma epidemia na China, o efeito na economia mundial já seria relevante. Ao virar pandemia, o quadro se agravou dramaticamente, indicando desde já recessão mundial em 2020. No Brasil, provavelmente o promissor ano de 2020 se transformará em mais um ano perdido.

A situação econômica do Brasil é crítica. Precisamos avançar com a plataforma liberal e com as privatizações, aprovar reformas, enviar com urgência as reformas administrativa e tributária ou trabalhar nas propostas que já tramitam na Câmara e no Senado. Entretanto, com a pandemia, um programa emergencial passou a ser prioridade absoluta. Empresas e pessoas mais vulneráveis precisam de recursos públicos para atravessar a crise que pode durar meses.

É hora de união de esforços para implementar medidas de curto prazo capazes de evitar o colapso da economia e preparar o SUS para o previsível aumento exponencial do número de casos confirmados do coronavírus. Mais do que preservar a economia, a principal missão do governo e da sociedade civil é salvar vidas.

Reconhecidamente, o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, vem conduzindo com competência técnica e transparência a comunicação com a população. Preocupa, entretanto, a falta de sintonia entre governo federal e governos estaduais. Não é hora de disputar protagonismo ou vencer discussões políticas. Como disse o arcebispo Fulton Sheen, cada vez que ganhava uma discussão, uma alma era perdida.

Não há dúvida sobre a gravidade da pandemia. Demorou um pouco, mas a população entendeu o tamanho do problema e está contribuindo com as autoridades na tentativa de conter a disseminação do coronavírus e o colapso do SUS. O sucesso brasileiro nessa guerra exigirá ação integrada que vai muito além da área médica. O planejamento da logística de suprimentos será fundamental: suprimento de água, alimentos, máscaras de proteção, material de higiene, medicamentos, equipamentos.

A nomeação do general Braga Neto como coordenador do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos do Coronavírus veio em boa hora, pois sua passagem como interventor federal do estado do Rio de Janeiro acrescentou-lhe experiência incontestável em lidar com dificuldades em tempo de escassez financeira, logística e de pessoal num ambiente de extrema transparência e prestação de contas. Certamente veremos uma coordenação de alto nível que ajustará a ação dos vários ministérios e dos governos estaduais e municipais em apoio ao Ministério da Saúde e às secretarias de Saúde.

Temos que reconhecer os méritos deste governo e do presidente Jair Bolsonaro em conseguir reunir um time de primeira linha na área executiva, independentemente de pressões político-partidárias. Enfatize-se que nossas Forças Armadas e forças policiais podem e devem apoiar as três esferas de poder no esforço governamental para evitar que, no Brasil, a crise na saúde pública assuma proporções semelhantes às que ocorrem na Itália e na Espanha. Da mesma forma, a Base Industrial de Defesa e Segurança está apta a se engajar na luta. Temos empresas capazes de produzir medicamentos, filtros especiais, contêineres médicos, ambulâncias, casas temporárias, armamento de menor potencial ofensivo, embarcações.

Saiba Mais

Uma ação ajustada entre governo federal e governos estaduais pode levar à isenção dos tributos estaduais nas compras dos órgãos de segurança pública, defesa e de saúde pública. Afinal, é governo pagando imposto para governo numa conta de soma zero. Seria um fôlego adicional para aumentar em cerca de 30% o poder de compra dos agentes que serão fundamentais na guerra que travamos contra a Covid-19. Para isso, basta que o Conselho de Secretários Estaduais de Fazenda — Confaz se reúna — remotamente — para aprovar essa medida excepcional e temporária.

Independentemente de preferências partidárias e ideológicas, o momento requer união nacional em torno de um pacto federativo sério e resoluto. A indústria de defesa está pronta para entrar nesse esforço de guerra.
 
*Carlos Erane Aguiar é presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Simde)