Os recursos para a guerra
Muito mais do que a proeza de atravessar uma tempestade e escapar dessa experiência, incólume e sem um arranhão, é preciso sair dessa turbulência com algumas lições capazes de induzir um crescimento moral interno, proveitoso e duradouro para toda a vida.
Esse talvez seja o principal benefício e aprendizado a ser adquirido pela população, tão importante quanto a própria sobrevivência nesses dias difíceis. Dentre as centenas de mudanças que podem ser necessárias não apenas para atravessar a crise com certa segurança, mas, sobretudo, para dar um novo rumo ao país numa fase posterior, sem dúvida nenhuma a questão da qualidade dos gastos públicos despontará como absoluta no horizonte. A começar pelo corte profundo em todas as chamadas mordomias e outros penduricalhos vergonhosos que dilapidam sensivelmente o Tesouro Nacional a cada ano, e que não param de crescer.
A lista desses gastos supérfluos, que, neste momento, podem, inclusive, receber a tarjeta de imorais, fariam com que uma montanha de recursos oriunda dos escorchados pagadores de impostos fossem alocada totalmente para a prevenção e o socorro à população e ao combate ao surto de virose mortífera que se anuncia pela frente. O anúncio de que estamos em regime extraordinário, semelhante a um período de guerra generalizada, já é reconhecido por grande parte das autoridades com responsabilidade e visão do momento. Como é caso do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
E o que é pior, esses recursos, na casa de bilhões de reais, estão prisioneiros de rubricas supérfluas, destinadas à manutenção de privilégios que há muito tempo são criticados pelos brasileiros. Esperar que o velho regime e a velha política se sensibilizem com a atual situação é perda de tempo. Da mesma forma, embora o governo ainda afirme que a possibilidade de decretação de estado de sítio está, por hora, fora do radar, essa alternativa, segundo alguns especialistas, não está totalmente descartada.
Para os chamados realistas, a decretação dessa medida é apenas questão de tempo, quando o número de mortos atingir um patamar crítico. Conhecendo a tradicional falta de operacionalidade de nossos hospitais em tempos de paz e que não é nada positiva, imaginem essa engrenagem frente a um período inusitado de alta turbulência. Falta para o adequado aparelhamento dos hospitais kits de teste, medicamentos, respiradouros automáticos e outros insumos, como equipamentos de proteção e tantas necessidades urgentes que não estão plenamente disponíveis, o que é visto e sentido pela população.
Imagens que nesses dias passaram a circular pelas redes sociais mostrando uma dúzia de enormes, custosos e obsoletos estádios de futebol espalhados por todo o Brasil dão o tom do desperdício de recursos num país carente e que tanta falta faz nesse momento. O que a população enclausurada poderá observar agora, talvez com maior tempo para refletir sobre a questão, é a existência de um fosso imenso entre a realidade nacional e a vida de luxo e segurança desfrutada há séculos por nossas autoridades. Se essa desigualdade já não fazia sentido em tempos de bonança, muito menos faz agora em plena tempestade.
» A frase que foi pronunciada:
“Guerra é o que acontece quando a linguagem falha.”
Margaret Atwood, escritora canadense
Contra a maré
» Rafaela Ferreira, pesquisadora mineira, usa a tecnologia para encontrar as fórmulas de remédios que não interessam à indústria farmacêutica. Já foi financiada pela Capes, pelo CNPq, pela Fapemig e recebeu prêmios da L’Oreal e da Unesco. Pesquisadores são a nata da sociedade. Eles merecem ter todo apoio possível do governo.
Dicas em tempos de guerra
» Nunca atenda chamadas de robô. Golpistas se aproveitam disso para propor desde tratamentos fraudulentos contra o coronavírus até esquemas de trabalho em casa. Pessoas bem intencionadas repassam todas as informações que recebem. Antes disso, procure verificar os fatos em portais do governo federal, estadual ou municipal. Vendedores online precisam ser conhecidos. Muitos estão alegando que entregam produtos sob demanda quando, na verdade, não os têm. Nunca acredite em oferta de dinheiro fácil. Jamais clique em links que chegam por e-mail. Eles podem levar vírus para a sua máquina. Não há vacinas, pílulas, poções, loções, pastilhas ou outros produtos sujeitos a receita ou sem receita médica disponíveis para tratar ou curar a doença de Coronavírus 2019. Ignore esse tipo de oferta. As informações são da Comissão Federal do Comércio norte- americana.
» História de Brasília
Que a gente possa falar, possa dizer, possa existir como fonte de informações para o público, são os nossos desejos. Nossa repulsa aos acontecimentos de Belo Horizonte, um general se sentir ofendido por um soco e mandar o Exército destruir o jornal, tenha paciência. (Publicado em 04/01/1962)