Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:05
O Brasil é dono da 8ª economia do mundo, e um dos setores que mais contribuem para o crescimento do PIB nacional é a agropecuária. O agro responde por 21% da soma de todas as riquezas produzidas, um quinto de todos os empregos e quase metade das exportações brasileiras, chegando a US$ 96,7 bilhões em 2019. Mas nem sempre foi assim.
Até a década de 70, o Brasil era importador líquido de alimentos. Conhecido como produtor de açúcar, café e cacau, importávamos quase tudo: do leite à carne, do arroz e feijão ao milho e às frutas. De tão rara à época, a maçã era presenteada como iguaria, enrolada em papel roxo.
O país não tinha um modelo de produção agrícola. Importava alimentos e tecnologia de outros países. Vivia perigosamente numa situação de insegurança alimentar.
Nada mais apropriado de que neste 20 de março, Dia Mundial da Agricultura, a fantástica saga agrícola brasileira seja relembrada. Nas últimas cinco décadas, o Brasil mudou. Hoje, por exemplo, exportamos maçã, aquela que era presenteada, para a Europa e os EUA.
A mudança tem nome e sobrenome: pesquisa, desenvolvimento e inovação agropecuária. Fomos capazes de estabelecer um arranjo robusto de inovação agropecuária. Criamos a agricultura tropical movida a ciência.
A pesquisa transformou os cerrados, antes considerados um passivo, num dos maiores ativos da economia brasileira. O bioma respondeu por metade da produção de grãos e cana-de-açúcar em 2019. Com ciência, adaptamos aos trópicos espécies de plantas e de animais.
A soja, que nos idos de 1974 ocupava praticamente apenas áreas nos estados da Região Sul, hoje é plantada até acima da linha do Equador. Mais recentemente, fizemos algo inusitado: trigo nos trópicos. Variedades desenvolvidas pela Embrapa para a região do cerrado brasileiro destacam-se por serem trigos de classe pão/melhorador, com alto teor de proteína (14% a 15%) e melhor qualidade de farinha, agora muito disputadas pelos moinhos.
As produtividades médias de quase 130 mil hectares de trigo cultivados no cerrado ficam ao redor de 3,3 t/ha (sequeiro), enquanto a média brasileira em 2019 foi de 2,62 t/ha. Se irrigadas, podem chegar a assombrosas 8,2 t/ha.
A pesquisa pública também tropicalizou as forrageiras, mais conhecidas como capins. Trazidos da África, os materiais foram melhorados e adaptados aos trópicos. Quase 90% dos pastos plantados são cultivados com variedades desenvolvidas pela Embrapa e hoje chamam a atenção e despertam interesse no continente de origem.
A produção agropecuária brasileira tem robusta base científica, em que se destacam o plantio direto, o controle biológico, a intensificação sustentável e a fixação biológica de nitrogênio (FBN). Apenas esta última tecnologia da Embrapa possibilita que o Brasil produza soja em 35 milhões de hectares sem a aplicação de adubos nitrogenados.
É um verdadeiro ovo de Colombo. Só a FBN traz uma economia de US$ 13 bilhões de dólares por ano para o país, além de impedir que sejam lançados na atmosfera mais de 60 milhões de toneladas equivalentes de CO2.
A ciência aplicada à agricultura foi além. Muito recentemente, em 2019, após 17 anos de pesquisa, a Embrapa disponibilizou o BiomaPhos, um bioinsumo que torna disponível o fósforo retido no solo, e as plantas não conseguem alcançar. É outro ovo de Colombo. Para o milho, o ganho de produtividade média é da ordem de 10%. A tecnologia pode reduzir a dependência da importação de adubos pelo Brasil.
Os desafios que se avizinham não são triviais. Se no passado a adaptação dos cerrados e a tropicalização de cultivos estiveram no centro da agenda da ciência agropecuária, no futuro o esforço vai envolver muito mais: sistemas integrados, edição genômica, agricultura digital e a bioeconomia – todos desempenharão papel crucial no avanço da produção de alimentos, fibras e bioenergia. A maior conectividade nas propriedades rurais, que hoje não chega a 30% dos estabelecimentos, possibilitará grande salto no desenvolvimento. E a pesquisa pública seguirá ajudando o Brasil a vencer desafios.
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