Opinião

Visão do Correio: Lava-jato, 6 anos. Ainda falta muito

A Operação Lava-Jato completa seis anos. Na história da República, foi a maior investigação realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público da União contra a corrupção no país. Em 70 fases, foram decretadas 293 prisões e devolvidos aos cofres públicos R$ 18,3 bilhões. A cada etapa, mitos e celebridades da política e da iniciativa privada eram demolidos pelo envolvimento em falcatruas que subtraíram somas vultosas da sociedade. Foi escancarada à opinião pública a relação delituosa entre empresários, políticos de quase todos os partidos, dentro e fora do Congresso, e detentores de cargos importantes no Executivo e no Legislativo.

O que antes era inimaginável se tornou concreto. Empresários renomados e poderosos foram investigados, processados e condenados à prisão. Ruiu o lema cunhado na fundação do Partido dos Trabalhadores: “Não roubamos nem deixamos roubar”. Alguns dos principais nomes do comando da legenda, como José Dirceu e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram apenados por participação no escândalo, que implodiu o búnquer instalado na Petrobras, uma das maiores petrolíferas do mundo.

À medida que as investigações avançavam, erodiam as relações sociais e políticas, e emergiam controvérsias sobre as denúncias. A sociedade brasileira, defensora do combate ferrenho à corrupção, também se dividiu. O Judiciário foi atingido pela revolta dos cidadãos. Todos cobravam — e ainda cobram — punição rigorosa e rápida dos envolvidos. Mas o tempo da Justiça, ao contrário, nem de longe contempla o ritmo almejado pela população.

No ano passado, após gravações obtidas ilicitamente por hackers, abriu-se a discussão sobre a imparcialidade da Lava-Jato. A polêmica impulsionou a elaboração e aprovação de lei contra o abuso de autoridade pelo Congresso. A nova regra é avaliada como prejudicial ao combate à corrupção e escudo aos congressitas envolvidos e protegidos pela imunidade parlamentar.

Divergências à parte, a Lava-Jato deixou patente que a estrutura do Estado brasileiro tem capacidade técnica, material e humana para quebrar esquemas de desvios de dinheiro da União, implodir grupos corruptos e punir aqueles que infringem às leis. Só não o faz quando não quer ou pretende encobrir malfeitos, movido pelos interesses políticos daqueles que, temporariamente, estejam no comando dos poderes da República. Ainda assim, impõe-se mudanças que aprimorem os marcos legais de enfrentamento aos crimes cometidos por grupos organizados que corroem o erário.