Opinião

Visão do Correio: Conciliação pelo Brasil

O Brasil precisa crescer. Especialmente agora, com os estragos econômicos globais provocados pelo coronavírus. O PIB da China caminha sob grave ameaça, e os mercados do mundo inteiro já dão sinais de alerta

O Brasil precisa crescer. Em meio à mais longa crise econômica de sua história, o país depende, cada dia mais desesperadamente, de gerar emprego, reaquecer a economia e impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB). Pouco mais de um ano depois da posse, os indicadores positivos do governo Bolsonaro ainda são escassos e claudicantes. O desemprego segue em níveis inaceitáveis, e a informalidade ameaça, além da renda das famílias, a arrecadação dos municípios, dos estados e da União, gerando incertezas que impactam diretamente a economia e realimentam um ciclo que precisa ser rompido.

O Brasil precisa crescer. Especialmente agora, com os estragos econômicos globais provocados pelo coronavírus. O PIB da China caminha sob grave ameaça, e os mercados do mundo inteiro já dão sinais de alerta. O dólar dispara e o petróleo despenca em um cenário também de incertezas. Enquanto o vírus se alastra por novos países, e o número de novos infectados fora da China supera os casos mais recentes registrados no país de origem da epidemia — elevando o risco de retração global —, o mau desempenho das bolsas estrangeiras contamina a Bovespa, que também apresenta “sintomas da epidemia”.

Enquanto inimigos internos e externos ameaçam e comprometem a retomada, no entanto, dispersões provocadas por polêmicas desnecessárias adiam também frequentemente a solução dos problemas. Em vez de usar recessos como o do carnaval para aparar arestas e baixar a temperatura das relações institucionais, o Executivo insiste em manter a dispersão que tanto prejudica o país. Mesmo conhecendo a paridade democrática entre os poderes, insiste em provocar os “colegas” do Legislativo e do Judiciário, numa rotina que se assemelha à dos pátios escolares em disputas adolescentes. O Brasil precisa crescer.

Falta também educação política. O eleitor que se arvora em tomar partido numa disputa entre os poderes precisa entender que também ele se coloca entre o Brasil que temos e o Brasil que queremos. A equipe econômica do ministro Paulo Guedes agora se divide entre as tão necessárias reformas tributária e    administrativa e o urgente trabalho de apagar os incêndios que possam inviabilizá-las por completo. As iniciativas mais efetivas do governo federal para fazer o país crescer dependem de seu bom relacionamento com o Congresso. E o eleitor, de uma forma geral, precisa compreender isso de uma vez por todas. 

Não se trata mais de estar do lado do mais forte, como na quinta série. Trata-se de fazer com que os mais fortes se unam em torno de objetivos comuns, mantenham o foco em torno desses objetivos, arregimentem o maior número de grupos da sociedade em torno das prioridades definidas e negociem com maturidade as concessões que deverão ser feitas em prol do bem comum. As instituições precisam ser respeitadas e cobradas no sentido de promover o crescimento de que precisa o país, com a retomada dos investimentos, da criação de empregos e da geração de renda. No embate entre os poderes, só é forte aquele que estende a mão aos outros. Só assim as causas ganham força. E a democracia agradece.