A observação vem a propósito de fatos recentes que empurram o Brasil rumo ao retrocesso. Há muito se considera a escola templo do saber e da aprendizagem. Mas, em pleno século 21, na principal unidade da Federação, policiais retiram estudante da sala de aula, espancam-no diante dos colegas e o levam algemado para o camburão.
“Polícia é polícia, bandido é bandido”, ensinou Lúcio Flávio Villar Lírio, assaltante cuja soma das penas ultrapassava 100 anos. Ele se tornou vedete da crônica policial dos anos 1960 e 1970 em razão das fugas espetaculares e por ajudar a desmantelar o Esquadrão da Morte, organização de justiceiros que matavam supostos criminosos.
O limite que divide os dois lados tão claramente definidos por Lúcio Flávio hoje parece confundir-se numa zona cinzenta em que papéis se embaralham. Em 1º de dezembro de 2019, a polícia paulista encurralou milhares de participantes de baile funk em Paraisópolis. O tumulto provocou a morte de nove jovens pisoteados.
Confrontos quase diários entre policiais e moradores de comunidades do Rio matam às cegas. Balas disparadas por armas dos que deveriam manter a lei e a ordem ceifam vidas de crianças e jovens cuja única culpa é morar em áreas pobres privadas da presença do Estado.
O Ceará presenciou cena de pastelão incompatível com o estado que revolucionou a educação básica no país. Senador licenciado dirige uma motoescavadeira para abrir passagem fechada por policiais amotinados. Leva duas balas no peito.
Não só. Declarações de altas autoridades remetem a nação a períodos que os brasileiros pensavam ter ultrapassado com os movimentos libertários da segunda metade do século 20.
Misoginia, homofobia, preconceitos, censura mostram a cara feia que a nação rejeita. A ordem é avançar. Retroceder é flertar com a barbárie.